segunda-feira, 30 de setembro de 2019

AMEI LER em Setembro - "O Pequeno Poeta", de Neurivan Sousa

SOUSA, Neurivan. O pequeno poeta. Guaratinguetá: Fábrica dos Livros, 2015.

"O menino poeta

de tudo faz rima

em versos ensina
e até dá palestra".


Disponível na Livraria AMEI
Este é o trecho do poema que dá nome ao livro de Neurivan Sousa, O pequeno poeta, o qual é uma seleção de 41 poemas escritos para os pequenos.
O público infantil se emociona em cada página, deixando a imaginação solta para apreciar as imagens falantes.
"A pipa papou as nuvens
de tanta fome de altura.
a pipa pirou de tontura
na ambição de aventura".

Nessa simples ação, o lirismo está presente, proporcionando o despertar das emoções traduzidas em forma de poesia.

As palavras transformam a leitura numa viagem mágica no universo da criança. As cores, as brincadeiras, os animais de estimação, as recordações, os amigos imaginários e as paisagens tornam os poemas divertidos.

Neurivan traduz com riquezas de detalhes essa fase única na vida de cada um.
Por Jaqueline Morais

AMEI LER em Setembro - "Lume", de Neurivan Sousa


Disponível na Livraria AMEI (São Luís Shopping)
A poética maranhense tem mostrado grande valor desde suas origens, e na literatura contemporânea de nosso estado vem mostrando a grandeza da criação literária com o surgimento de novos poetas de grande criatividade. Vemos , assim, que a poesia, sim, tem seu valor, embora seja incomunicável em algumas situações ou nos comunique de maneiras diferentes.

Em nosso conjunto atual de poetas de excelência, podemos falar sobre Neurivan Sousa que vem se apresentando e se firmando como um dos grandes nomes do Renovo da Atenas Brasileira. Poeta e professor da rede pública, além de ser membro fundador da Associação Maranhense de Escritores Independentes (AMEI), Neurivan pulica em 2015 Lume, livro de poesias bem estruturado do início ao fim.

Lume possui cerca de 100 poemas dividido em três partes/capítulos: Caligem, Interlúdio e Transparessência. Em Caligem, Neurivan põe em prática um discurso sobre a condição humana e seus medos de forma bem descrita e crítica, com uma poesia que nos chama atenção às causas sociais.

Filho do silêncio

A boca do silêncio
me diz coisas horríveis
em tom de profecia
apocalíptica, ogiva
nuclear invisível. 
(Lume, p.46)

Cidade de São Luís

Leprosa ela dorme
o sono dos mendigos
abandonada no frio
da noite tuberculosa. 
(Lume, p.50)

Na segunda parte (Interlúdio), o poeta toma outra perspectiva: desta vez, começa a discorrer sobre transcendência, tempo, Deus e a vida.

Elegia temporal

a vida se arrasta 
no lodo anêmico
dos dias desnutridos 
levando consigo
o fulgor dos sonhos
que dos meus olhos
se distanciam feito
brisa de outono. 
(Lume, p.71)

Teseu

E Deus criou este mundo
tenebroso e confuso
como labirinto da alma
humana, e deu a ela
uma armadura feita
de carne, osso e sangue. 
(Lume, p.73)

O peso da idade

De tempos em tempos
eu mudo de escamas
numa clínica de estética.
[...]
De tempos em tempos
eu enterro e desenterro
o meu doentio cadáver. 
(Lume, p.80)

Na última parte do livro (Transparessência), podemos ver outro tipo de escrita, mais intimista, logo vemos certo lirismo nos versos.

O preço de amar

amor
só com amor se paga
qualquer outra moeda
nos fará devedores
sujeitos a altos juros
e correção monetária. 
(Lume, p.99)


Nocaute

Passei dias brigando
contra o amor
numa luta de titãs.
[...]
Subestimei-o! E fui
vencido pelo cansaço.
Num sopro, ele me fez
cair na lona de joelhos. 
(Lume, p.102)

Neurivan Sousa é um desses poetas que merecem ser conhecidos por sua poética excelente. Seu livro é um redemoinho de conhecimentos poéticos que valem a pena serem lidos e relidos, pois comove, sensibiliza e desperta sentimentos.

Por Ricardo Miranda Filho

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

AMEI LER em Setembro - "Minha estampa é da cor do tempo" Neurivan Sousa


SOUSA, Neurivan. Minha estampa é da cor do tempo. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2017.

“Ipês desflorados
A escassez de pétalas
Silencia até o vento.”
(p.18)

Azuis, brancas, amarelas, vermelhas, cinzas. A cada cor, um conjunto de poemas para estampar as páginas tingidas pela poesia de Neurivan Sousa. A intangível relação com o tempo, o ofício do poeta, a intensidade do amor em suas mais diversas formas, o ser humano em descompasso com a natureza, a violência, a corrupção, a descrença e a fé. Tudo o quanto cabe no poema, morada de um fragmento temporal, está contido nos versos francos de Minha estampa é da cor do tempo (2017).

Disponível na Livraria AMEI
Dividido em cinco blocos de poemas, cada um atribuído a uma coloração de estampa, o livro promove uma travessia inusual pelas percepções que vamos deixando às margens da vida, enquanto o tempo as desbota nos soprando para longe.

Em Estampas Azuis, primeiro bloco de 14 poemas, o autor se alterna entre a melancolia, o silêncio, a culpa, a saudade, a ternura, a esperança e o frescor da infância. Como reflete em “Mea-culpa”:
“[...]
Sinto-me celeiro vazio
Depois de desperdiçar
A colheita lá fora
Nos talos dos momentos.”
(p.14)

O ofício do poeta e sua relação com a vida está no bloco seguinte, de Estampas Brancas, que entre mais 13 poemas, nos traz os versos de “Máscara”:

“Desde que narciso
Baixou nos homens
Dei para me esconder
Atrás dos versos.”
(p.33)

Na sequência, os 16 poemas de Estampas Amarelas se desdobram entre os insondáveis mistérios do amor que nos atravessam de saudade, cuidado, desalento e sacrifício. Destaque para “Ben” e “Porta-retratos”:

BEN
“Fixo-me no sono do meu cão.
Com o que será que ele sonha
Enquanto dorme com as patas cruzadas
Sob o focinho úmido de buscas?

Sua feição terna a lembrar-me
O meu filho Léo na incubadora
Anjo sem asas deitado em lã
Ouvindo a vida dizer:
—Vem!
[...]”
(p.48)

PORTA-RETRATOS
“Teus traços
Teus gestos
Teus passos
O silêncio
Das tuas pálpebras
[...]
Tudo de ti
Veio comigo
Só tu ficaste
À distância
De um sonho.”
(p.56)

No sugestivo Estampas Vermelhas, 14 poemas sangram sob a corrupção, a violência, os maus-tratos ao planeta e a estupidez humana. “Tiro ao alvo” dá conta do problema social que o armamento envolve, sobretudo em países violentos como o Brasil:

“[...]
A bala maldita
Sequer medita
Nos sonhos
Que interrompe
Na véspera
De um aniversário

Nos órfãos
E nas viúvas
Que para sempre
Ficarão presos
No negror da fila
De um necrotério
[...]”
(p. 66-67)



Arrematando o livro, as 12 poesias de Estampas Cinzas chegam como memórias revisitadas, que ganham cor a medida que o poeta as traz à tona em versos. Gosto especialmente de “Abraço derradeiro”:

“Meu avô antes de desaguar
Me chamou ao seu leito
E balbuciou:

Sê mar
Para não ter margens
Só fundo
E fôlego de deus!

Agarrei aquelas palavras
Como sendo a sua bênção.”

Por Talita Guimarães

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

AMEI LER em Setembro - "Palavras Sonâmbulas", Neurivan Sousa

SOUSA, Neurivan. Palavras sonâmbulas. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2016.

Como falar daquilo que não é tão fácil? Como por em palavras o que transborda no coração, que lutam contra a razão e rejeitam as tentativas de fazer sentido? A resposta é a poesia.

Ao ler Palavras Sonâmbulas, de Neurivan Sousa, o que se apreende é que tudo que a poesia exprime é o que mais nos aflige, o que mais tira nossa paz, o que nos assombra e inquieta. A poesia deste maravilhoso autor maranhense é fruto de seu encanto e espanto diante da vida.
 
Disponível na Livraria AMEI (São Luís Shopping)

Na obra, publicada em 2016 pela Editora Penalux, Neurivan vaga pelos caminhos sem destino de sua vivência diária, explorando a dor, a morte, a miséria. Suas palavras ferem, mas também curam; alarmam, mas também fascinam. 

Evocando Drummond e os ombros que suportam o mundo, o poeta aborda a massacrante angústia do homem no poema “Todo o Peso” (p. 27):
Todo o peso

Carrego nos ombros
Curvados pelo pranto
O peso de dores órfãs

Uma âncora oxidada
Um balde de água
Uma mala de chumbo

Todo o peso deste mundo
Não pesa um grão de areia
Do deserto que me habita

Em “Crítica Literária” (p. 37), fica evidente a metalinguagem do poeta em sua própria poesia. Neurivan define (ainda que não seja suficiente) seu estilo.

Crítica Literária

Nos teus versos controversos
Há mais risos do que lágrimas,
Há mais sol do que trevas,
Há mais beleza do que espanto,
Há mais água do que sangue,
Há mais brisa do que fogo.
Por isso a tua poesia – sopa fria
E rala – é tão insossa. Falta
Paladar ao teu cardápio.

E nessa metalinguagem, Neurivan vai nos apresentando sua visão da poesia, como em “Aguaceiro” (p. 48):

Aguaceiro

Há poetas
Que escrevem
Para poetas:
Chuva grossa
Molhando 
O mar

Há poetas 
que escrevem 
para seu ego:
banho de chuva
sob a bica

Há poetas 
Que escrevem
Para quem os lê:
Chuva caindo
No deserto

E há poetas
Que não escrevem
- sua poesia é
Inexprimível:
Nuvem carregada.



A experiência de ler a obra completa fala mais alto que as amostras acima, no entanto, a título de recomendação, os poemas de Neurivan me deram a certeza que não são feitos apenas de palavras, mas de alma viva e pulsante – algo raro e admirável nos tempos atuais. Para ler sua alma em papel e tinta, leia Neurivan Sousa.

Por Lorena Silva.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

AMEI LER em Julho - "Palavras ao vento", Linda Barros

BARROS, Linda. Palavras ao vento. São Luís: Gráfica Valle, 2018. 2ª Ed ampl.

Chão Vazio
De um chão vazio
Áspero 
Com um fundo
Suave
Suave como a aspereza
da solidão.
Ainda assim nos
acolhe, nos jubila
Aqui espreguiça a vida
Daqui sai a voz
que ecoa na escuridão.
(p. 45).

Palavras ao Vento de Linda Barros é um livro curtinho, possui apenas 47 páginas. Estas estão cheias de sentimentos, pois a autora se coloca em cada verso. Leva o leitor a conhecer suas angústias, tristezas, seus amores e seus desejos.



Nesta obra, podemos perceber como Linda faz um resgate de momentos importantes de sua vida para que não sejam esquecidos, nem o vento os leve para fora do alcance de suas mãos.

Outro ponto relevante é como a autora através de uma linguagem simples consegue te fazer refletir sobre a importância de se revisitar nossas lembranças, como uma amiga querida. Porque são os pequenos detalhes que ficarão guardados, seja um sorriso, uma conquista ou um momento ruim. 

O ser humano se modifica com o passar dos anos, e tudo o que ele vivencia contribuirá para sua evolução, basta incorporar somente o que for relevante. E Linda Barros conseguiu mostrar com sensibilidade em Palavras ao Vento, justamente o que lhe é precioso: seu ser. 

Por Jaqueline Morais



terça-feira, 23 de julho de 2019

AMEI LER em Julho - "Pétalas de Sangue", de Laura Barros Neres



NERES, Laura Barros. Pétalas de Sangue / Laura Neres. São Luís: Ed. Da Autora, 2014.

Em 2014, a escritora maranhense, Laura Barros Neres, trouxe a público seu livro de estreia, "Pétalas de Sangue". O seu amor pela leitura a levou a criar suas próprias narrativas.

Maya, a protagonista dessa ficção, acaba de voltar da Florinda e irá dividir o apartamento com seus melhores amigos, Anne e Vitor, quem nos faz dá boas risadas em meio a trama. Ela estava contente por ter conseguido um emprego numa livraria do shopping. O que não poderia imaginar era se apaixonar a primeira vista, como vemos no trecho a seguir: “ Que cara mais perfeito ... Acho que me apaixonei...” (p.12).



Maurício é o típico príncipe encantado. Com boa aparência, charmoso, educado, sensual, sedutor, de deixar as mulheres babando por onde passa. Como não o amar? Porém, era seu chefe. No entanto, isso não o impediu de investir na nova funcionária. Isso fica claro quando diz: “- Espero que seja uma ótima funcionária, se for, você pode conseguir um cargo maior. – Disse ele piscando”. (p.12).

O relacionamento deles é abalado pelas ameaças de Helena, ex-noiva de Maurício. “Maya, se você estiver tendo um caso com Maurício, vou te despedir do emprego. Então se você não quiser perder a merda do emprego, sai de perto dele, eu vi primeiro." (p.23).
Por medo, Maya acaba se afastando dele, mas voltam e as coisas se complicam, devido ao comportamento doentio de Helena:

– No dia que ele te deu carona até em sua casa tivemos uma discussão horrível, ele falou que estava de olho em outra garota! Fiquei imaginando quem seria... até eu ver com meus próprios olhos, vocês dois juntos... não acreditei, eu adorei você, é uma funcionária dedicada, atende bem os clientes e de repente toma o meu noivo. Tenho que me livrar de você. Tenho que fazê-lo achar que você se matou! – Falou ela. (p.33-34).

Após sua recuperação do atentado sofrido, Maya acaba perdoando Maurício, já que o mesmo não tem culpa de Helena ser uma psicopata. Algum tempo depois, Maya aceita o pedido de casamento e tem o seu sonhado final feliz. Todavia há uma reviravolta. O que acontecerá?


É nesse misto de aventura, romance, mistério e humor, que a autora faz o leitor refletir, que qualquer um pode encontrar um sapo grotesco em pele de príncipe. Que pessoas ruins estão por aí, esperando para nos machucar. Ela te deixa impactada! Foi exatamente assim, que me senti ao chegar as últimas linhas dessa narrativa envolvente, que prende a atenção do leitor do início ao fim.

Por Jaqueline Morais


quarta-feira, 17 de julho de 2019

AMEI LER em Julho - "Negra Rosa & e outros poemas", de José Neres


A poesia sempre nos trouxe modos de um olhar o mundo sob diversos aspectos por meio de sua sonoridade e ritmo, debatendo sob os diversos temas que norteiam a construção da história do mundo e, consequentemente, do ser humano.

Alguns poetas conseguem destacar-se na criação literária pela boa escolha das palavras e pelo seu bom posicionamento sintático, o que demonstra bom conhecimento de termos literários. Em vários locais do Brasil, pudemos perceber muitos destaques dentro da poesia, e o Maranhão berço de muitos. Um deles é o professor, escritor e poeta José Neres, que ainda ocupa uma das cadeiras da Academia Maranhense de Letras.


Em um de seus excelentes  livros, Negra Rosa & outros poemas, José Neres divide seu livro em três partes: a primeira apresenta poemas com diversas estruturas - do soneto ao verso livre - sobre o mesmo tema (Negra Rosa), colocando cada poema como se fosse um capítulo dessa história poética; a segunda nos traz conjunto de dez sonetos com o mesmo teor social; e a terceira nos traz diversos poemas com diversas estruturas e os mais variados temas.

O livro nos traz mensagens fortes sobre questões sociais e históricos desde o seu início, mostrando-nos a capacidade poética de Neres:


I
A profecia 

Uma linda negra aqui virá
Para livrar seu povo da escravidão
Moça virgem, o céu merecerá
Pois ela ao prazer sempre dirá não. [...]


V
A resposta 

[...]
Se o senhor da história
Não sabe, eu vou contar.
Tudo o que aconteceu
Faz muito tempo um rei
Chamado Sebastião
Numa batalha morreu 

Deixando o reino sozinho
Aos gostos de nova lei,
Mas o corpo não foi achado.
O rei Dom Sebastião
Na batalha não morreu
Virou o ser encantado [...] 

Estas estrofes demonstram como o poeta é capaz de escrever de forma simples, mas concisa fatos históricos demonstrando importância para esta época. Não muito distante, também descreveu parte de sua cidade, além do teor social:

Nove

Na rua do Sol um menino há
Cuja pele de tanto frio treme,
Lá na rua dos Prazeres está
Uma velha que de tanta dor geme.

A rua do Egito leva ao mar,
Que lava o sangue que sai da Alegria
Depois d'Alecrim e Horta irrigar
E no Ribeirão levar novo dia [...] 

Notam-se a métrica e o encadeamento do poema breve, mas que demonstram capacidade de construir versos coerentes capazes de formar o poema com uma estrutura forte e engenhosa. A construção poética do livro Negra Rosa & outros poemas apresenta a inteligência literária do escritor que, por meio de diversos tipos de poemas, soube passar ao seu leitor a mensagem desejada. Este é um livro cujo conhecimento poético, literário, social, lírico e crítico merece ser lido inúmeras vezes.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

AMEI LER em Julho - Todas as Mulheres em Laura Barros Neres


A obra se encontra à venda na Livraria AMEI - São Luís Shopping
 NERES, Laura Barros. Mulheres. São Luís: Colorgraf, 2017. 40 p. 
Em um período muito favorável histórica e socialmente à discussão de causas feministas, uma das componentes da família de autores de Julho foi muito feliz em sua observação sagaz da realidade que a cerca.

Em "Mulheres", Laura Neres Barros chama a atenção desde a concepção gráfica de sua pequena grande obra: surpreendi-me ao encontrar uma marca real de um beijo na folha de rosto. Este toque me encheu de ternura ao constatar o carinho que Laura teve por sua coletânea de contos sobre todas as mulheres que Laura já foi, ou já viu, ou já conheceu. Ela poderia nos dizer quem são elas ou não, pois seus leitores também conseguirão associar cada narrativa com alguma mulher em suas vidas.

A autora discorre pelas breves quarenta páginas da obra sobre mulheres que, antes de seu gênero, são seres humanos. Antes de serem "para casar", são indivíduos com histórias que Laura observa muito bem, ressaltando que todos os rótulos que tentam nos impor são pequenos frente à fortaleza de uma mulher que reconhece seu lugar no mundo.

Não me custou entender que Laura mesmo é uma dessas mulheres. Suas palavras são simples, seu ritmo é dinâmico, suas observações são precisas. Ficou claro que a natureza humana é mesmo um objeto de estudo para essa jovem graduanda em Psicologia, tendo compreendido quantas somos em apenas uma. E, acima de tudo, que sejamos múltiplas, mas cada faceta deve ser respeitada, cada mulher que vive em toda mulher merece amor.

Destaco os contos "Negrinha", "Abusivo", "Reflexões" e "Somos Muitas", que tratam respectivamente sobre preconceito racial, relacionamentos abusivos, o contexto social da mulher contemporânea e o lembrete pungente de que toda mulher é um ser humano.

Além de nos presentear com suas palavras, a obra de Laura Barros Neres nos dá também outros presentes extras: uma playlist de músicas que tem como tema a mulher, além de uma página em branco - uma sugestão divertida e também um incentivo a escrevermos nossa própria história.


Por Lorena Silva



quarta-feira, 10 de julho de 2019

AMEI LER em Julho - "Ilha Virtual", informativo literário editado por José Neres e família

Ilha Virtual: literatura por todos os lados

Para abrir o mês de julho no Clube Amei Ler apresentamos um projeto que conta com a participação dos quatro membros da família de múltiplos talentos artísticos que estará conosco este mês: os Neres Barros, formada pelo casal de escritores José Neres e Linda Barros e seus filhos Laura e Gabriel Barros Neres!
Um informativo virtual sobre a literatura maranhense que desde 2011 assegura um espaço de divulgação à arte literária de nomes consagrados e iniciantes, sem distinção. Este é o Ilha Virtual, jornal online editado pelo professor e escritor José Neres com a colaboração periódica de seus alunos dos cursos de letras e de um trio particularmente especial: sua esposa, a também professora, escritora e atriz Linda Barros e os filhos do casal, a atriz, escritora e futura psicóloga Laura Barros Neres e o escritor e estudante de jornalismo Gabriel Barros Neres.

Ao centro o casal José Neres e Linda Barros ladeados pelos filhos Gabriel e Laura
Há oito anos em atividade com 32 edições publicadas, o Ilha Virtual lança luz sobre livros clássicos e contemporâneos, divulga eventos literários, traça perfis de autores, recomenda leituras, analisa obras e expõe opinião. Além de já ter prestado homenagens a nomes como Lenita Estrela Sá, José Chagas, Aluísio Azevedo, Gonçalves Dias, Wilson Marques e José Ewerton Neto em edições com capas dedicadas a autores célebres da literatura maranhense, o informativo segue antenado com os rostos que não param de surgir na cena local, entrevistando novos autores e trazendo suas obras de estreia para a roda.


Na edição nº 31 de junho/2019, o jornal se posicionou em editorial sobre o exercício de resistência que é manter o periódico ativo: 

“A cultura maranhense é tão rica quanto diversificada e, com o desparecimento paulatino dos suplementos literários, quase não se tem mais um espaço reservado para tal divulgação. Então é praticamente como um ato de resistência contra as adversidades que tentamos manter este informativo. Nem sempre - por motivo de escassez de tempo e excesso de trabalho - é possível mantê-lo atualizado. Contudo, na medida do possível, estas páginas aparecem para tentar equilibrar um jogo tão desigual.”

Neste mesmo exemplar é possível conferir o trabalho conjunto da família Neres Barros no expediente da publicação, que sob edição de José Neres conta com uma coluna sobre perfis de artistas maranhenses assinada por Linda Barros, um excelente artigo sobre literatura infantil e inclusão de Gabriel Barros Neres, além de textos do próprio editor sobre os autores Ronaldo Costa Fernandes e Zeca Martins e 10 sugestões de leitura maranhense para as férias. A atriz Laura Barros Neres figura entre os perfis de autores da nova geração, com seus livros “Pétalas de Sangue” (2015) e “Mulheres” (2019).

Com um trabalho independente de constante divulgação e atualização da literatura maranhense, o Ilha Virtual presta um fundamental serviço à cena local ao promover o diálogo entre gerações, incentivando a leitura e a conversa sobre as pessoas, os temas, paisagens, estilos, gêneros e interesses que mantém viva a produção literária e cultural no Maranhão. A título de preservação da memória cultural, o informativo online dá conta de produzir um registro de quase uma década do que tem sido produzido em termos de literatura e teatro no estado. 

Por tudo isso, vale conhecer, acompanhar, ler, divulgar e colaborar! A edição nº 32 de julho/2019 está quentinha aqui. Para consultar o catálogo completo de edições, basta acessar a página oficial do Prof. José Neres.

Por Talita Guimarães

sexta-feira, 28 de junho de 2019

AMEI LER em Junho - "Lérias", Maria Thereza de Azevêdo Neves

NEVES, Maria Thereza de Azevêdo. Lérias. São Luís: 1ª ed. Gráfica Minerva, 2019.

“Pular corda ou correr com os cachorros? Resta-me cantar e me encantar, porque coração de avó é aquele que segura suas mãozinhas para sempre.”
(p.76)

Ao ser convidada para colaborar com uma coluna semanal no Jornal da Tarde em 2010, a primeira reação de Maria Thereza de Azevêdo Neves, que já havia se lançado como contista, memorialista e autora de histórias infantis, foi hesitar. Contudo, como observadora sensível que é, logo a escritora se entregou ao prazer do exercício cotidiano de comentar a realidade demonstrando também possuir domínio da arte da crônica.

No recém-lançado Lérias (2019), Maria Thereza reúne crônicas publicadas ao longo de dois anos no jornal, estabelecendo um diálogo franco, terno e gentil com os leitores. Aliás, é justamente por desejar transformar seu espaço no diário em um ambiente leve de “conversa mole” que a autora chama essa coletânea de “lérias”, que significa papo fiado. 

Acontece, porém, que é na despretensão que mora grande parte das reflexões mais bonitas que a vida nos fornece. Ao se permitir compartilhar conosco sua visão de mundo em primeira pessoa, Maria Thereza produz beleza. Como quando comenta a experiência de ser avó e revela uma perspectiva absolutamente singela sobre acolher as novas gerações de sua família; ou quando dedica palavras bem escolhidas ao resgate de memórias sensoriais da infância com gostinho de manga anajá. 
Entre os temas que interessam à autora estão ainda literatura (a autora fala das leituras de Isabel Allende e José Saramago), paixão, saudade, tempo, fé, cultura e cidades. Mas nem só de sutilezas se fazem as crônicas de Lérias, e conhecemos um lado atento ao calendário da ciência, da política e até do futebol! A autora brinca que sua agenda anual de comentários é ao avesso, por seus temas nem sempre coincidirem com as datas comemorativas, o que não deixa de ser mais uma forma inteligente de escapar do óbvio e surpreender com pautas inesperadas.

Disponível na Livraria AMEI

Destaco como ponto alto do livro a crônica “Maria das Rosas” (p.65) que retrata um fragmento de dia da autora perfeito para ser levado para o papel. A cena começa com um relato quase mal humorado de quem espera sua vez por uma consulta médica e se ilumina de repente com a entrada improvável de uma mulher que distribui gratuitamente florzinhas feitas à mão para todos os pacientes na sala de espera. 

“Ela falava serena: (...) ‘Sempre fui encantada com jardins, mas minha casinha termina logo na porta da rua. Foi por isso que comecei a fazer rosinhas. Vejo que todos gostam de recebê-las. Na minha rua, no meu bairro, nos bairros vizinhos, todos me conhecem por Maria das Rosinhas. Ganho sorrisos e amigos’.” (p.66)

Após a leitura que se desenrola com prazer pelo equilíbrio entre humor e crítica, lirismo e franqueza, fica a conclusão que para uma conversa que se pretendia não resultar em nada prático, as Lérias de Maria Thereza de Azevêdo Neves se aprofundam em bem mais do que despista não se comprometer.

Por Talita Guimarães

terça-feira, 25 de junho de 2019

AMEI LER em Junho - As mulheres em "Atalhos", de Maria Thereza de A. Neves


Logo que adquiri a obra, não hesitei em iniciar a leitura. Contos são muito bem-vindos nas correrias do dia-a-dia. O que eu não esperava era encontrar uma reflexão profunda e necessária sobre esse dia-a-dia corrido. Quanto ignoramos? Quantos detalhes deixamos de observar? O que escolhemos ignorar? Maria Thereza de A. Neves desnuda para nós começos de respostas para essas perguntas.

"Atalhos" traz, antes de uma coletânea de contos realistas, histórias de mulheres maranhenses. A autora explora os perfis dessas mulheres que são facilmente identificáveis em nossas mães, irmãs, esposas, amigas... São mulheres que sofrem, mas que lutam. Que suportam a angústia da perda do filho, da dignidade, do sucesso, do amor - de cabeça erguida. Nem sempre mulheres jovens, mulheres na meia-idade e idosas retratadas com a doçura da juventude que insistem em cultivar na memória. A memória é um pano de fundo muito explorado pela autora, que nos mostra os anos finais da vida, o final de uma jornada que não pode ser esquecida, afinal, somos nossas histórias. 

Cada conto traz uma óptica do realismo cru de Maria Thereza, mas gostaria de destacar aqui os que falaram mais alto sobre as batalhas dessas mulheres que encontramos na obra.

Conhecemos as mulheres de meia-idade que tanto remanescem quanto precisam enfrentar o que ainda está por vir, encontradas nos contos "Parabéns, Deputado!", "Papai Noel" e "Linhas Paralelas". Em "Parabéns, Deputado!", acompanhamos a trajetória de Naná, menina simples, indiazinha do interior, que vem para a cidade com o deslumbre da capital, mas se vê presa em uma armadilha sem escape e descobre da pior maneira possível o que há de pior nas pessoas. Em "Papai Noel", encontramos Adélia, uma mãe às voltas com um pedido inocente da filha que só quer uma boneca de porcelana de Natal, mas precisa escolher entre um golpe de coragem e as necessidades básicas da família. Já em "Linhas Paralelas", acompanhamos a visão confusa de Alexandre sobre Renata, que via a vida com poesia, mas seu poema era sublime demais para a vida cruel de Alexandre. 

A mulher no auge da maturidade é retratada em contos como "Herança de um Deus", "Querida Vovó", "Cleópatra" e "Voando com Ícaro". Benedita é uma mãe orgulhosa de seu filho, Zé Ozano, em "Herança de um Deus", ilustrando a glória da mãe que só quer o melhor para seus filhos, que tem como maior desejo ver o filho "doutor". Já em "Querida Vovó", é Dona Léa, uma avozinha orgulhosa de seus feitos, quem paga pelos erros do neto. No fim da vida, temos dois contos bem ilustrativos de idosos em situação asilar e dos últimos momentos de vida. "Cleópatra" retrata Maria Lúcia, que após flagrar a traição do grande amor de sua vida, sofre um trauma severo e passa a se identificar apenas como Cleópatra - sua verdadeira identidade apagada pelo tempo para ela e para os que a cercam. "Voando com Ìcaro" nos mostra Tia Lulu, uma simpática senhora que vive seus últimos dias no hospital e usa a força de sua imaginação para criar os delírios que a embalam até o suspiro final. 

Ler Maria Thereza é escapar da realidade imergindo na verdadeira face dela, seja boa ou ruim. Afinal, até na realidade há certo lirismo, se soubermos observar. 

Por Lorena Silva.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

AMEI LER em Junho - "Atalhos", de Maria Thereza de Azevedo Neves

NEVES, Maria Thereza de Azêvedo. Atalhos. São Luís: Lithograf, 2005.


Maria Thereza de Azevedo Neves representa o que há de melhor na literatura maranhense atual. Com uma escrita bem estruturada e consistente, a escritora consegue descrever cenários por meio de uma narrativa linear e bem simples, mas que consegue atrair atenção do leitor.

Em seu livro Atalhos, Maria Thereza apresenta diversos contos, cada um com uma estrutura similar, mas com diversos temas, cujas diferenças não a impediram de escrever com qualidade do início ao fim do livro. Afinal, não é para menos: a escritora possui uma tradição literária de excelência, pois é neta do escritor Américo Azêvedo, irmão de Aluísio e Arthur Azêvedo.

Seu livro Atalhos é uma “Herança de Deus” (título de um de seus contos) e é exemplo de um exímio livro da literatura maranhense que sempre foi predisposta a ser um berço de escritores de imensa qualidade literária que conseguem ver a vida e o mundo por meio da literatura. E em Atalhos, a escritora conseguiu, de fato, mostrar a nossa vida real mostrando cenários da nossa São Luís, como no bem escrito conto “Em noite de lua nova”.

Atalhos é um livro que vale a pena ser lido por mostrar a proeza de uma bela escrita, desde a extraordinária descrição e construção de seus personagens e cenários, além de os temas terem sido bem trabalhados.




Por Ricardo Miranda

sexta-feira, 14 de junho de 2019

AMEI LER em Junho: Minha Árvore, de Maria Thereza de A. Neves

NEVES, Maria Thereza de Azevêdo. Minha Árvore. - São Luís: 2ª edição, Gráfica Minerva, 2017.

"Ficarei sob a árvore que é, afinal, o meu horizonte, o meu limite e de cujos frutos vivi. Frutos feitos de risos, de lágrimas, de sustos, de derrotas, de vitórias. Frutos de um amor sem fim". ( Maria Thereza de Azevêdo Neves).

Segundo Arlete Nogueira, Minha Árvore, é "um livro livro emocionante e bem estruturado". Em que a autora te conduz por uma narrativa envolvente, fazendo o leitor sentir suas lembranças vívidas, quase palpável, como é o seu amor por José Bento.

Para compor seu personagem, Maria Thereza, pediu ajuda "[...] à família de Bento: 'Contem-me de sua vida, falem-me dele'". Graças a eles, ela pode compartilhar conosco os momentos mais marcantes da vida de seu esposo.

Ela o retrata como um herói, que enfrentou muitas batalhas, sem nunca deixar de ser um homem íntegro, bom irmão, advogado, político, excelente pai e companheiro fiel. Com quem teve muitos frutos, dentre eles: Raphaela, Eugênia, Virgínia, Rodrigo, Maria Paula, Tarsila e Davi.

"Minha Árvore" é um livro de memórias, que pode ser apreciado em qualquer momento de seu dia. Seja numa tarde chuvosa, tomando café ou chocolate quente, ou apenas no silêncio de quem se permite imergir em uma prazerosa leitura.

por Jaqueline Morais 

Incentive a literatura maranhense - obra disponível na Livraria AMEI - São Luís Shopping


sexta-feira, 7 de junho de 2019

AMEI LER em Junho - "Café ou chocolate?", Maria Thereza de Azevêdo Neves


NEVES, Maria Thereza de Azevêdo. Café ou chocolate?. São Luís: 2ªEd, Gráfica Minerva, 2017.

“Doeu dizer adeus àquela Ilha pequenina e alegre, adeus ao mar inconstante, ora perto, ora distante, na indecisão de enchente ou vazante de eternas marés.”
(Maria Thereza de Azevêdo Neves)


Maria Thereza de Azevêdo Neves é um achado. Desses preciosos que só encontra quem garimpa uma livraria por oras a fio, na paciência de quem sabe que há de ver brilhar um tesouro por baixo de tantas lombadas e capas duras.

Reconhecida por grandes nomes como Arlete Nogueira da Cruz, esta discreta autora maranhense, cuja produção em prosa se desdobra em romances, contos e memórias, aborda com limpidez em Café ou Chocolate? (2017) o tema recorrente do preconceito que limita as mais puras experiências humanas.

No romance, Maria Thereza de Azevêdo Neves narra como o entrelaçamento de duas trajetórias de vida fundadas em valores distintos pode conduzir tanto à vitória da redenção humana quanto ao drama de um desfecho trágico.

É sob a alternância dessas duas possibilidades que acompanhamos o drama do jovem advogado Hans, que embora oriundo de uma família alemã abastada, tem sua rotina de bon vivant interrompida por um acidente que o deixa cego. Paralelamente a isso, seguimos a competente enfermeira Calomé desde que seus pais ainda a tentavam conceber, envoltos em simpatias desastrosas e situações pitorescamente divertidas na São Luís da década de 60.

Livro disponível na Livraria e Espaço Cultural AMEI

As vidas de Hans e Calomé (que nasceu Salomé, mas por erro de um atendente disléxico do cartório foi registrada com a letra trocada) se cruzam quando a enfermeira é selecionada como cuidadora temporária do advogado em sua adaptação à nova condição visual.

A relação que se estabelece caminha delicadamente do profissional para uma afeição que evolui para o amor. Admirado com a cultura e sabedoria da moça, Hans se apaixona por ela, e a defende dos inexplicáveis ataques de intolerância de sua família, que é um retrato do culto à aparência e ao poder financeiro. O conflito entre os dois surge quando Hans descobre por meio de um comentário malicioso a cor da pele de sua cuidadora e reage ao mesmo tempo surpreso e febril como um típico fruto de uma educação racista.

O desenrolar desse drama, que passa por temas como violência sexual, analfabetismo, preconceito racial, desigualdade social, afeto, fé, educação e amor, vale a leitura envolvente que propõe várias reflexões importantes sobre a ordem social cujos padrões visam a manutenção de relações de poder opressivas.

Por meio de construções frasais concisas que constroem imagens narrativas eficientes, a autora flui pelos acontecimentos marcantes da jornada de cada personagem sem comprometer o desenvolvimento da história, entregando uma leitura profunda sobre as experiências humanas como produtos do meio social.

Por Talita Guimarães