SOUSA, Neurivan. Palavras
sonâmbulas. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2016.
Como falar daquilo que não é tão fácil? Como por em palavras o que
transborda no coração, que lutam contra a razão e rejeitam as tentativas de
fazer sentido? A resposta é a poesia.
Ao ler Palavras Sonâmbulas,
de Neurivan Sousa, o que se apreende é que tudo que a poesia exprime é o que
mais nos aflige, o que mais tira nossa paz, o que nos assombra e inquieta. A
poesia deste maravilhoso autor maranhense é fruto de seu encanto e espanto
diante da vida.
Disponível na Livraria AMEI (São Luís Shopping) |
Na obra, publicada em 2016 pela Editora Penalux, Neurivan vaga pelos
caminhos sem destino de sua vivência diária, explorando a dor, a morte, a
miséria. Suas palavras ferem, mas também curam; alarmam, mas também fascinam.
Evocando
Drummond e os ombros que suportam o mundo, o poeta aborda a massacrante
angústia do homem no poema “Todo o Peso” (p. 27):
Todo o peso
Carrego nos ombros
Curvados pelo pranto
O peso de dores órfãs
Uma âncora oxidada
Um balde de água
Uma mala de chumbo
Não pesa um grão de areia
Do deserto que me habita
Em “Crítica Literária” (p. 37), fica evidente a metalinguagem do poeta em sua
própria poesia. Neurivan define (ainda que não seja suficiente) seu estilo.
Crítica Literária
Nos teus versos controversos
Há mais risos do que lágrimas,
Há mais sol do que trevas,
Há mais beleza do que espanto,
Há mais água do que sangue,
Há mais brisa do que fogo.
Por isso a tua poesia – sopa fria
E rala – é tão insossa. Falta
Paladar ao teu cardápio.
E nessa metalinguagem, Neurivan vai nos apresentando sua visão da poesia, como
em “Aguaceiro” (p. 48):
Aguaceiro
Há poetas
Que escrevem
Para poetas:
Chuva grossa
Molhando
O mar
Há poetas
que escrevem
para seu ego:
banho de chuva
sob a bica
Há poetas
Que escrevem
Para quem os lê:
Chuva caindo
No deserto
E há poetas
Que não escrevem
- sua poesia é
Inexprimível:
Nuvem carregada.
A experiência de ler a obra completa fala mais alto que as amostras acima, no
entanto, a título de recomendação, os poemas de Neurivan me deram a certeza que
não são feitos apenas de palavras, mas de alma viva e pulsante – algo raro e
admirável nos tempos atuais. Para ler sua alma em papel e tinta, leia Neurivan
Sousa.
Por Lorena Silva.
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