segunda-feira, 30 de setembro de 2019

AMEI LER em Setembro - "O Pequeno Poeta", de Neurivan Sousa

SOUSA, Neurivan. O pequeno poeta. Guaratinguetá: Fábrica dos Livros, 2015.

"O menino poeta

de tudo faz rima

em versos ensina
e até dá palestra".


Disponível na Livraria AMEI
Este é o trecho do poema que dá nome ao livro de Neurivan Sousa, O pequeno poeta, o qual é uma seleção de 41 poemas escritos para os pequenos.
O público infantil se emociona em cada página, deixando a imaginação solta para apreciar as imagens falantes.
"A pipa papou as nuvens
de tanta fome de altura.
a pipa pirou de tontura
na ambição de aventura".

Nessa simples ação, o lirismo está presente, proporcionando o despertar das emoções traduzidas em forma de poesia.

As palavras transformam a leitura numa viagem mágica no universo da criança. As cores, as brincadeiras, os animais de estimação, as recordações, os amigos imaginários e as paisagens tornam os poemas divertidos.

Neurivan traduz com riquezas de detalhes essa fase única na vida de cada um.
Por Jaqueline Morais

AMEI LER em Setembro - "Lume", de Neurivan Sousa


Disponível na Livraria AMEI (São Luís Shopping)
A poética maranhense tem mostrado grande valor desde suas origens, e na literatura contemporânea de nosso estado vem mostrando a grandeza da criação literária com o surgimento de novos poetas de grande criatividade. Vemos , assim, que a poesia, sim, tem seu valor, embora seja incomunicável em algumas situações ou nos comunique de maneiras diferentes.

Em nosso conjunto atual de poetas de excelência, podemos falar sobre Neurivan Sousa que vem se apresentando e se firmando como um dos grandes nomes do Renovo da Atenas Brasileira. Poeta e professor da rede pública, além de ser membro fundador da Associação Maranhense de Escritores Independentes (AMEI), Neurivan pulica em 2015 Lume, livro de poesias bem estruturado do início ao fim.

Lume possui cerca de 100 poemas dividido em três partes/capítulos: Caligem, Interlúdio e Transparessência. Em Caligem, Neurivan põe em prática um discurso sobre a condição humana e seus medos de forma bem descrita e crítica, com uma poesia que nos chama atenção às causas sociais.

Filho do silêncio

A boca do silêncio
me diz coisas horríveis
em tom de profecia
apocalíptica, ogiva
nuclear invisível. 
(Lume, p.46)

Cidade de São Luís

Leprosa ela dorme
o sono dos mendigos
abandonada no frio
da noite tuberculosa. 
(Lume, p.50)

Na segunda parte (Interlúdio), o poeta toma outra perspectiva: desta vez, começa a discorrer sobre transcendência, tempo, Deus e a vida.

Elegia temporal

a vida se arrasta 
no lodo anêmico
dos dias desnutridos 
levando consigo
o fulgor dos sonhos
que dos meus olhos
se distanciam feito
brisa de outono. 
(Lume, p.71)

Teseu

E Deus criou este mundo
tenebroso e confuso
como labirinto da alma
humana, e deu a ela
uma armadura feita
de carne, osso e sangue. 
(Lume, p.73)

O peso da idade

De tempos em tempos
eu mudo de escamas
numa clínica de estética.
[...]
De tempos em tempos
eu enterro e desenterro
o meu doentio cadáver. 
(Lume, p.80)

Na última parte do livro (Transparessência), podemos ver outro tipo de escrita, mais intimista, logo vemos certo lirismo nos versos.

O preço de amar

amor
só com amor se paga
qualquer outra moeda
nos fará devedores
sujeitos a altos juros
e correção monetária. 
(Lume, p.99)


Nocaute

Passei dias brigando
contra o amor
numa luta de titãs.
[...]
Subestimei-o! E fui
vencido pelo cansaço.
Num sopro, ele me fez
cair na lona de joelhos. 
(Lume, p.102)

Neurivan Sousa é um desses poetas que merecem ser conhecidos por sua poética excelente. Seu livro é um redemoinho de conhecimentos poéticos que valem a pena serem lidos e relidos, pois comove, sensibiliza e desperta sentimentos.

Por Ricardo Miranda Filho

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

AMEI LER em Setembro - "Minha estampa é da cor do tempo" Neurivan Sousa


SOUSA, Neurivan. Minha estampa é da cor do tempo. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2017.

“Ipês desflorados
A escassez de pétalas
Silencia até o vento.”
(p.18)

Azuis, brancas, amarelas, vermelhas, cinzas. A cada cor, um conjunto de poemas para estampar as páginas tingidas pela poesia de Neurivan Sousa. A intangível relação com o tempo, o ofício do poeta, a intensidade do amor em suas mais diversas formas, o ser humano em descompasso com a natureza, a violência, a corrupção, a descrença e a fé. Tudo o quanto cabe no poema, morada de um fragmento temporal, está contido nos versos francos de Minha estampa é da cor do tempo (2017).

Disponível na Livraria AMEI
Dividido em cinco blocos de poemas, cada um atribuído a uma coloração de estampa, o livro promove uma travessia inusual pelas percepções que vamos deixando às margens da vida, enquanto o tempo as desbota nos soprando para longe.

Em Estampas Azuis, primeiro bloco de 14 poemas, o autor se alterna entre a melancolia, o silêncio, a culpa, a saudade, a ternura, a esperança e o frescor da infância. Como reflete em “Mea-culpa”:
“[...]
Sinto-me celeiro vazio
Depois de desperdiçar
A colheita lá fora
Nos talos dos momentos.”
(p.14)

O ofício do poeta e sua relação com a vida está no bloco seguinte, de Estampas Brancas, que entre mais 13 poemas, nos traz os versos de “Máscara”:

“Desde que narciso
Baixou nos homens
Dei para me esconder
Atrás dos versos.”
(p.33)

Na sequência, os 16 poemas de Estampas Amarelas se desdobram entre os insondáveis mistérios do amor que nos atravessam de saudade, cuidado, desalento e sacrifício. Destaque para “Ben” e “Porta-retratos”:

BEN
“Fixo-me no sono do meu cão.
Com o que será que ele sonha
Enquanto dorme com as patas cruzadas
Sob o focinho úmido de buscas?

Sua feição terna a lembrar-me
O meu filho Léo na incubadora
Anjo sem asas deitado em lã
Ouvindo a vida dizer:
—Vem!
[...]”
(p.48)

PORTA-RETRATOS
“Teus traços
Teus gestos
Teus passos
O silêncio
Das tuas pálpebras
[...]
Tudo de ti
Veio comigo
Só tu ficaste
À distância
De um sonho.”
(p.56)

No sugestivo Estampas Vermelhas, 14 poemas sangram sob a corrupção, a violência, os maus-tratos ao planeta e a estupidez humana. “Tiro ao alvo” dá conta do problema social que o armamento envolve, sobretudo em países violentos como o Brasil:

“[...]
A bala maldita
Sequer medita
Nos sonhos
Que interrompe
Na véspera
De um aniversário

Nos órfãos
E nas viúvas
Que para sempre
Ficarão presos
No negror da fila
De um necrotério
[...]”
(p. 66-67)



Arrematando o livro, as 12 poesias de Estampas Cinzas chegam como memórias revisitadas, que ganham cor a medida que o poeta as traz à tona em versos. Gosto especialmente de “Abraço derradeiro”:

“Meu avô antes de desaguar
Me chamou ao seu leito
E balbuciou:

Sê mar
Para não ter margens
Só fundo
E fôlego de deus!

Agarrei aquelas palavras
Como sendo a sua bênção.”

Por Talita Guimarães

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

AMEI LER em Setembro - "Palavras Sonâmbulas", Neurivan Sousa

SOUSA, Neurivan. Palavras sonâmbulas. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2016.

Como falar daquilo que não é tão fácil? Como por em palavras o que transborda no coração, que lutam contra a razão e rejeitam as tentativas de fazer sentido? A resposta é a poesia.

Ao ler Palavras Sonâmbulas, de Neurivan Sousa, o que se apreende é que tudo que a poesia exprime é o que mais nos aflige, o que mais tira nossa paz, o que nos assombra e inquieta. A poesia deste maravilhoso autor maranhense é fruto de seu encanto e espanto diante da vida.
 
Disponível na Livraria AMEI (São Luís Shopping)

Na obra, publicada em 2016 pela Editora Penalux, Neurivan vaga pelos caminhos sem destino de sua vivência diária, explorando a dor, a morte, a miséria. Suas palavras ferem, mas também curam; alarmam, mas também fascinam. 

Evocando Drummond e os ombros que suportam o mundo, o poeta aborda a massacrante angústia do homem no poema “Todo o Peso” (p. 27):
Todo o peso

Carrego nos ombros
Curvados pelo pranto
O peso de dores órfãs

Uma âncora oxidada
Um balde de água
Uma mala de chumbo

Todo o peso deste mundo
Não pesa um grão de areia
Do deserto que me habita

Em “Crítica Literária” (p. 37), fica evidente a metalinguagem do poeta em sua própria poesia. Neurivan define (ainda que não seja suficiente) seu estilo.

Crítica Literária

Nos teus versos controversos
Há mais risos do que lágrimas,
Há mais sol do que trevas,
Há mais beleza do que espanto,
Há mais água do que sangue,
Há mais brisa do que fogo.
Por isso a tua poesia – sopa fria
E rala – é tão insossa. Falta
Paladar ao teu cardápio.

E nessa metalinguagem, Neurivan vai nos apresentando sua visão da poesia, como em “Aguaceiro” (p. 48):

Aguaceiro

Há poetas
Que escrevem
Para poetas:
Chuva grossa
Molhando 
O mar

Há poetas 
que escrevem 
para seu ego:
banho de chuva
sob a bica

Há poetas 
Que escrevem
Para quem os lê:
Chuva caindo
No deserto

E há poetas
Que não escrevem
- sua poesia é
Inexprimível:
Nuvem carregada.



A experiência de ler a obra completa fala mais alto que as amostras acima, no entanto, a título de recomendação, os poemas de Neurivan me deram a certeza que não são feitos apenas de palavras, mas de alma viva e pulsante – algo raro e admirável nos tempos atuais. Para ler sua alma em papel e tinta, leia Neurivan Sousa.

Por Lorena Silva.