sexta-feira, 7 de junho de 2019

AMEI LER em Junho - "Café ou chocolate?", Maria Thereza de Azevêdo Neves


NEVES, Maria Thereza de Azevêdo. Café ou chocolate?. São Luís: 2ªEd, Gráfica Minerva, 2017.

“Doeu dizer adeus àquela Ilha pequenina e alegre, adeus ao mar inconstante, ora perto, ora distante, na indecisão de enchente ou vazante de eternas marés.”
(Maria Thereza de Azevêdo Neves)


Maria Thereza de Azevêdo Neves é um achado. Desses preciosos que só encontra quem garimpa uma livraria por oras a fio, na paciência de quem sabe que há de ver brilhar um tesouro por baixo de tantas lombadas e capas duras.

Reconhecida por grandes nomes como Arlete Nogueira da Cruz, esta discreta autora maranhense, cuja produção em prosa se desdobra em romances, contos e memórias, aborda com limpidez em Café ou Chocolate? (2017) o tema recorrente do preconceito que limita as mais puras experiências humanas.

No romance, Maria Thereza de Azevêdo Neves narra como o entrelaçamento de duas trajetórias de vida fundadas em valores distintos pode conduzir tanto à vitória da redenção humana quanto ao drama de um desfecho trágico.

É sob a alternância dessas duas possibilidades que acompanhamos o drama do jovem advogado Hans, que embora oriundo de uma família alemã abastada, tem sua rotina de bon vivant interrompida por um acidente que o deixa cego. Paralelamente a isso, seguimos a competente enfermeira Calomé desde que seus pais ainda a tentavam conceber, envoltos em simpatias desastrosas e situações pitorescamente divertidas na São Luís da década de 60.

Livro disponível na Livraria e Espaço Cultural AMEI

As vidas de Hans e Calomé (que nasceu Salomé, mas por erro de um atendente disléxico do cartório foi registrada com a letra trocada) se cruzam quando a enfermeira é selecionada como cuidadora temporária do advogado em sua adaptação à nova condição visual.

A relação que se estabelece caminha delicadamente do profissional para uma afeição que evolui para o amor. Admirado com a cultura e sabedoria da moça, Hans se apaixona por ela, e a defende dos inexplicáveis ataques de intolerância de sua família, que é um retrato do culto à aparência e ao poder financeiro. O conflito entre os dois surge quando Hans descobre por meio de um comentário malicioso a cor da pele de sua cuidadora e reage ao mesmo tempo surpreso e febril como um típico fruto de uma educação racista.

O desenrolar desse drama, que passa por temas como violência sexual, analfabetismo, preconceito racial, desigualdade social, afeto, fé, educação e amor, vale a leitura envolvente que propõe várias reflexões importantes sobre a ordem social cujos padrões visam a manutenção de relações de poder opressivas.

Por meio de construções frasais concisas que constroem imagens narrativas eficientes, a autora flui pelos acontecimentos marcantes da jornada de cada personagem sem comprometer o desenvolvimento da história, entregando uma leitura profunda sobre as experiências humanas como produtos do meio social.

Por Talita Guimarães

2 comentários:

  1. Agradecemos a visita e desejamos uma ótima leitura! Sinta-se convidada a participar do nosso encontro com a autora Maria Thereza de Azevêdo Neves no sábado 29 de junho, das 16h às 18h na Livraria e Espaço Cultural Amei (São Luís Shopping). Entrada gratuita! ;)

    ResponderExcluir