quinta-feira, 29 de outubro de 2020

AMEI LER EM OUTUBRO: "Zona de Desconforto", de Lindevânia Martins

 

Obra disponível na Livraria AMEI do São Luís Shopping ou no site ameilivraria.com


Por Lorena Silva

Após a leitura da maior parte das obras de Lindevania Martins, ficou claro para nós do Clube AMEI LER que o compromisso da autora com a literatura é também um compromisso com o social, o político, o humano. Esse compromisso se reafirma na obra "Zona de Desconforto" (Benfazeja, 2018, 120 páginas) ao longo dos oito contos que compõem o volume.

O conto que dá titulo à coletânea nos apresenta a Marina, uma criança que passa por uma situação bastante conhecida do nosso contexto social: é a menina que deixa sua família em uma cidade interiorana e vai trabalhar nas tarefas domésticas de uma casa de família mais abastada, tendo sua infância e identidade apagadas. Neste conto, não por muito tempo.

 
Em "Tudo Vermelho", vemos os truques e voltas que o destino dá apresentando um casal separado pela criminalidade e violência, e reunido justamente através disso. Com uma discussão muito pertinente sobre a mulher em um relacionamento abusivo e uma reviravolta surpreendente, o conto entrega ação e suspense em poucas páginas.

"Querida Mamãe" explora novamente uma protagonista infantil, uma criança que precisa fazer uma redação sobre alguém de sua família, e se vê sem alternativa a não ser escrever sobre a mãe. Mas como falar da mãe sem denunciar o desarranjo familiar que a menina vive? Certamente desafiador, e ainda mais para uma criança a quem foi ensinada que mentir é feio.

"O Número Perfeito" narra o envolvimento entre três amigos, Otávio, Hugo e Mariana, formando um triângulo amoroso não tão perfeito assim. Intriga, inveja e um sentimento de vingança levam o narrador Otávio a reproduzir padrões sociais que o enchem de amargura e arrependimento.
 

Destaco ainda "Virulência", "A Parede de Vidro" e "Retrato de Família" como meus contos preferidos da coletânea pela profundidade psicológica das protagonistas de cada conto. "Virulência" retrata a mulher que assume uma postura dura e indiferente diante da vida e procuramos entender os caminhos que a levaram a assumir tal postura. "A Parede Vidro" complementa essa perspectiva de uma mulher marcada, agora sob o ponto de vista de uma prostituta. Já em "Retrato de Família", temos a figura de uma mulher que, vinda de uma família desestruturada, abusiva, violenta, toma como sua missão não reproduzir os mesmos padrões que marcaram sua história. No entanto, ela vai descobrir que há muito mais envolvido do que apenas seu enorme desejo e empenho em fazê-lo.
 
O último conto, "Flagrante" encerra a coletânea com a história de um marido que descobre a traição da esposa com um amigo, expondo uma demonstração de humor da autora no maior estilo Nelson Rodrigues, mas que deixa um gosto amargo quando compreendemos que situações como essa são até bastante comuns.

Portanto, a leitura de "Zona de Desconforto" faz jus ao título ao agregar narrativas que estão longe de nos oferecer conforto, de fato: oferecem inquietação, revolta, reflexão. É incontestável a habilidade de Lindevania no conto, entregando histórias breves, mas que marcam quem as lê. A brevidade de suas palavras somente expõe o quanto são necessárias.

E a autora estará com o Clube AMEI LER nesta sexta-feira, 30, às 18h, para divulgar e discutir sua obra, carreira, literatura e muito mais. Vamos?



quinta-feira, 22 de outubro de 2020

AMEI LER EM OUTUBRO: "Longe de Mim", de Lindevania Martins

Obra disponível na Livraria AMEI (São Luís Shopping) e no site ameilivraria.com


Por Lorena Silva

Em um contexto social e político como o brasileiro, obras literárias que tratem de temáticas sociais são uma tônica, e isto está longe de ser uma recorrência tediosa ou lugar-comum. A literatura nasce da realidade, e cria através dela, produzindo não apenas entretenimento, mas inspirando mudanças, reflexões, ações. A cada olhar, surge uma nova inquietação, uma nova faceta que deixávamos de perceber, e essa atenção aos detalhes é o que faz da experiência de leitura um ato transformador.

O conto "Longe de Mim" (Sangre Editorial, 2019) da autora maranhense Lindevania Martins explora algumas dessas temáticas: abuso infantil, violência contra a mulher e questões de gênero. Este conto traz em si o peso e a força das mazelas sociais. O que "Longe de Mim" tem de curto, tem de pungente. 


Conhecemos Josi, uma criança de dez anos, que é retrato de uma infância entrecortada pelos diversos padrastos ou "tios" que já teve, relacionamentos de sua mãe, Rosana, que foi mãe muito cedo. Josi tem muito de qualquer menina de sua idade (imaginativa, criativa, doce), mas também tem características muito específicas, moldadas pelo ambiente familiar fragmentado. Ela parece, muitas vezes, ter ainda mais maturidade que a própria mãe, e tem uma visão de mundo bastante concreta. 

Josi narra a chegada de um novo "tio", chamado Fernando, que transforma sua vida e de sua mãe em um inferno particular: é alcóolatra e violento. Josi tenta o máximo que pode ficar longe do alcance de suas mãos e luta para que Rosana perceba que ela deve fazer o mesmo, contudo, esta enfrenta obstáculos por ter homens em sua vida como provedores que impedem Rosana e Josi de passar fome, mas por um preço muito alto.

A história dessa criança não é diferente de muitas notícias de jornal. A visão que a autora nos apresenta de uma protagonista tão jovem explicita, na crueza e dureza de seu discurso, o quanto uma situação de violência e subjugação constantes fazem marcas indeléveis à personalidade de uma mulher em formação. 


A escrita de Lindevania Martins em "Longe de Mim" nos surpreende em poucas páginas, demonstrando uma concisão que demonstra a intimidade da autora com o conto. As palavras são selecionadas com precisão para entregar uma narrativa curta, mas que permanece com o leitor por muito tempo depois de lê-la. 

Essa marca está sempre presente nas narrativas de Lindevania. Fico curiosa para saber quais relações se estabelecem entre essas visões tão reais de várias mulheres retatratadas em contos e poemas da contista primeiramente por ser mulher, e depois com sua prática profissional como defensora pública. Há uma militância em sua escrita, não é apenas entretenimento. Lindevania está exclamando com lirismo que nossas crianças devem ser protegidas, não deixadas à revelia; nossas mulheres são, acima de tudo, seres humanos, e estão sujeitas a atos ilícitos para defender a si e aos seus. 

Vamos saber mais conversando com a própria autora no dia 30 de Outubro, às 18h, no nosso perfil do instagram @clubeameiler. Siga para acompanhar nossa live e interagir com Lindevania Martins. Aguardamos todes lá!


sexta-feira, 16 de outubro de 2020

AMEI LER EM OUTUBRO: Anônimos: invenções de Amor, Morte e Quase-Morte, de Lindevania Martins

Resenha escrita por Ricardo Miranda Filho


A literatura contemporânea vem apresentando diversos exemplos de narrativas bem construídas de modo a exercer um reflexo fiel da realidade por meio de uma literariedade que deveras é sublime e dá prazer de ser lido e relido inúmeras vezes. Quando os elementos da literários são postos de maneira concatenadas e exercem uma linearidade, criando uma estética fenomenal, a obra como um todo faz permanecer os olhos atentos do leitor.

Assim fez a escritora maranhense Lindevania Martins ao escrever Anônimos: Invenções de Amor, Morte e Quase-Morte,  livro de contos publicado em 2003 e logo depois vencedor do XXVII Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, na categoria contos. O livro apresenta 16 contos com temáticas variadas, embora todos contenham uma narrativa densa - apesar de boa leitura -, com personagens bem delineados e com uma trama que faz o leitor devorar o livro em poucas horas.

Com uma narrativa bem-feita que faz lembrar a sagacidade de Nelson Rodrigues, Lindevania Martins soube perfeitamente elaborar sua personalidade na escrita de forma a contribuir com a literatura maranhense. Os relatos pessoais, emocionais e críticos se transformaram em contos autênticos e construídos com simplicidade, mas com um desfecho cheio de tensão, fazendo o leitor querer mais.

"Nicolai, que nunca pretendeu céus ou infernos, sabe que não é inocente, que não merece perdão. Mas não dará a outra face. Quer corromper, tornar a todos perversos como ele. Sabe que não é isso a felicidade, mas esse nunca foi o seu caminho. Compreende que sua glória reside justamente no oposto, no trabalho silencioso e paciente de destruir outros seres, de aniquila-los moral ou espiritualmente para ficar menos só na própria miséria. Nicolai precisa de companhia."

Este, de fato, é um livro que merecer ser lido pelo alto teor de seu valor literário por ter sido escrito com uma inteligência impecável, o que demonstra os motivos se apreciar uma boa literatura.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

AMEI LER EM SETEMBRO: "Simplesmente Alice", de Nathalia Batista

Obra disponivel na Livraria AMEI, São Luís-MA

No mês de setembro, dedicamos nossas atenções à saúde mental, e nas leituras deste mês, a autora Nathalia Batista, que também é psicóloga, é uma representante dessa profissão que também é autora de ficção. Não há como ler seu segundo livro "Simplesmente Alice" (2017, Chiado Editora), e não pensar nas influências de sua atuação profissional ao abordar temas tão delicados que mexem com nossa mente.

No romance, conhecemos Alice Branco, uma mulher bem-sucedida, decoradora na cidade de Andrazia, a qual todos vêem como exemplo e inspiração. Mas Alice esconde um passado traumático de todos e ele vem à tona quando ela conhece Joseph Jones, um homem que a encanta e também a intriga por lhe fazer voltar ao passado que ela tanto evita e procura esquecer. Assim, somos convidados a desvendar os segredos e os mistérios de Alice, inaugurando a trilogia "Nas Profundezas da Loucura", onde Nathalia pretende abordar transtornos mentais representados em personagens femininas.

Mantendo o ritmo de seu romance de estreia, a escrita de Nathalia segue sendo certeira e sagaz, prendendo nossa atenção em algumas linhas. A visão da narradora tem um quê de cinematográfica, contando a história como se assistíssemos um thriller  e nos deixando cada vez mais curiosos até descobrirmos que a protagonista na verdade é esquizofrênica e, como tal, já sofreu surtos psicóticos que a levaram a cometer atos inconsequentes - esses, você terá de ler para saber. 

A habilidade de Nathalia persiste, explicitando nos detalhes sua dedicação à pesquisa e à ambientação da narrativa da forma mais verossímil possível. As reflexões da protagonista acerca da saúde mental, suas sessões de psicoterapia e interações com os demais personagens revelam a expertise da autora, que nos conta em forma de ficção um pouco de sua própria vivência e percepção dos transtornos mentais. É um trunfo em tempos de discussão fervorosa dessa temática, afinal, vivemos tempos cada vez mais nebulosos e reconhecemos hoje ainda mais a importância dos profisssionais da saúde em geral, em especial aqui os psicólogos.

"Simplesmente Alice" é um convite de exercício de empatia, de reflexão sobre autoconhecimento, e uma provocação: como você lida com o seu passado? Foge dele ou aprende com ele? São perguntas que precisamos nos fazer de vez em quando, e a literatura é também essa amiga, essa conselheira, que através de obras como a de Nathalia, nos ajuda a crescer.



Participe do nosso encontro com a autora via live no instagram @clubeameiler!
Esperamos você!




quarta-feira, 23 de setembro de 2020

AMEI LER EM SETEMBRO: "Desencontros e Desencantos", de Nathalia Batista

Obra disponivel na Livraria AMEI, São Luís-MA


Por Lorena Silva


A literatura maranhense contemporânea tem se mostrado bastante diversificada em seus gêneros, temas e estilos. Ao me deparar com o romance de Nathália Batista, “Desencontros e Desencantos” obra de estreia publicada em 2016 pela Chiado Editora (Portugal), percebi que a ousadia e talento maranhenses não tem limites – nem de tempo, nem de espaço tampouco.

A obra nos apresenta à jovem dama de companhia Suzanne, uma moça de 17 anos que fará uma jornada em busca da maturidade e do amor. Somos transportados para a Inglaterra vitoriana na narrativa de Nathália, e com ela vamos conhecer e descobrir como Suzanne lidará com a cruel Veronika e experimentará sua primeira avassaladora paixão com o envolvente Alexander.

Nathália demonstra uma virtude desejável a qualquer autor que se aventura a escrever romances de época: a pesquisa e a precisão histórica. É perceptível quanto tempo a autora dedicou a pesquisar e conhecer a Londres do século XIX para ambientar sua história. Detalhes minuciosos enriquecem a narrativa e a tornam muito verossímil, nos fazendo imergir na trama sem conseguir parar.

A habilidade da autora em contar histórias também fica evidente nos inúmeros conflitos aos quais somos apresentados – desde a maneira com que Suzanne lida com a arqui-inimiga Veronika até a confusão de sentimentos que ela experimenta ao se envolver com Alexander. Os demais personagens transitam entre a nobreza britânica já tão explicitada por grandes autoras do período, como Jane Austen e Emily Brontë, expondo igualmente seus vícios e virtudes. Contudo, saber que uma autora maranhense demonstra essa amplitude literária nos deixa orgulhosos em constatar a versatilidade de nossos escritores.

“Desencontros e Desencantos” nos entrega uma história muito fluida, que nos captura nas primeiras frases e nos faz chegar extasiados ao final. É também um lembrete de que nossa literatura pode ser o que quisermos que seja, pode abordar qualquer tema que se propõe, desde que o escritor demonstre perícia e criatividade.


Participe do nosso encontro com a autora via live no instagram @clubeameiler!
Esperamos você!




sexta-feira, 21 de agosto de 2020

AMEI LER EM AGOSTO: Os Tambores de São Luís, de Josué Montello


Ricardo Miranda Filho


Fazer literatura muitas vezes não é apenas transcrever sentimentos, quiçá a própria alma, em palavras, mas também transformar uma realidade de um povo, de uma cultura em uma obra de tamanha importância para estudos de várias vertentes literárias e sócio-históricas. Antônio Cândido já asseverara que há uma relação entre o livro e seu condicionamento social, e nela há um ponto crucial para se compreender o enredo construído. Assim nota-se que, quando se constrói uma história, existem sempre fatores externos - como o ambiente, costumes, traços grupais, ideias - que começam a ajudar a formar o valor estético da criação literária, independentemente da época. É algo atemporal e cada vez mais presente na literatura contemporânea.

A literatura é uma expressão da nacionalidade e da cultura de quem a faz, haja vista o escritor coloca nas linhas suas impressões e expressões sobre a cidade, os valores e ideologias presentes em sua época e meio em que vive. A forma como elementos sociais são colocados em um romance nos permite conhecer mais a nossa história, cultura e sociedade, principalmente quando elencados e descritos com excelência e fidelidade. Assim o fez Josué Montello em Os Tambores de São Luís, cuja história do período escravocrata até o começo da República Brasileira, descrevendo a história de Damião que sai de Turiaçu e se muda para São Luís com o objetivo de se tornar padre. A partir dessa mudança, começa-se a perceber como a cidade é descrita a partir de um olhar subjetivo de Damião sobre a cidade até um olhar mais descrente e severo sobre as pessoas e os valores, que nutriam com mais severidade as relações entre escravo e senhor. Conhecemos aí uma personagem histórica para o Maranhão: Ana Jansen, senhora de escravos famosa por sua crueldade com os escravos, fazia questão de conhecer Damião somente por ele ter conhecimento sobre latim e falar muito bem a língua.

Walter Benjamin afirmou uma vez: "quem pretende se aproximar do próprio passado deve agir como um homem que escava". Assim fez Josué Montello ao elaborar um romance que descreve a identidade do negro, dando-lhe voz, e da cidade de São Luís, descrevendo suas características culturais, arquitetônicas e patrimoniais que nos remetem aos belos casarões que ainda sobrevivem ao tempo, além de citar nomes de escritores importantes para a nossa literatura, como Gonçalves Dias, Sotero dos Reis, Nascimento Morais.


“Seguindo pelo lado da sombra, para tornar mais agradável a caminhada, dirigiu-se ao Largo do Carmo, com a intenção de falar ao professor Sotero dos Reis, no Liceu Maranhense, e que, dias antes, lhe tinha confiado as provas de seus Comentários de César. Como não o encontrou, seguiu até o Largo do Palácio, para ver se o Ramos de Almeida já havia recebido a edição alemã dos Cantos, de Gonçalves Dias, anunciada no último Almanaque  do Belarmino de Matos.” (p.374-375)

 

“E o certo é que, ao cabo de poucos meses, as obras estavam concluídas, com  cano de alvenaria, as máquinas e os tubos de ferro. Seis chafarizes tinham vindo da Inglaterra para alguns pontos da cidade: a Praça da Alegria, o Largo de Santo Antônio, a Praça do Comércio, o Largo do Carmo, o Largo do Quartel e a Praça do Mercado.” (p.379)

 

Os sons de Os Tambores de São Luís ainda ecoam pela cidade como modo de representação de uma história e de uma cultura que merecem ser lembradas e vividas pela nossa sociedade. A escrita de Josué Montello nesse romance nos remete a uma composição realista e de cunho épico que nos leva a entender cada vez mais a sociedade brasileira e, principalmente, da história do negro durante o processo de construção de sua identidade em um país que estava se moldando aos poucos. Ler Os Tambores de São Luís não é somente ter uma literatura em mãos, mas também compreender cada vez mais a história de nosso povo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

AMEI LER EM AGOSTO: Janelas Fechadas, de Josué Montello

Capa da primeira edição (1941)

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Capa da última edição (2006)

Por Ricardo Miranda Filho

A São Luís do Maranhão é uma terra repleta de escritores de características literárias fenomenais, haja vista ter sio chama de Atenas Brasileira no século XIX. Quando alguém toma as palavras para descrever perfeitamente as características de um povo, de uma pessoa, de uma época ou lugar, é notório que seu nome permanecerá intacto ao longo do tempo em virtude de ter demonstrado capacidade e inteligência literárias.

Pode-se dizer que a literatura maranhense sempre apresentou escritores de imensurável qualidade literária. A exemplo disso, podemos citar Josué Montello que iniciou sua carreira na área ao publicar Janelas Fechadas em 1941, havendo outras edições posteriormente.

O romance por si só traz uma leitura super agradável, sem apresentar nenhuma dificuldade ao leitor. No livro é conta a estória de uma família simples: Benzinho, Juca e sua mãe D. Binoca. A vida dos três muda quando Benzinho se envolve com um cara casado e acaba engravidando. Logo os três se mudam para o Anil para que não sofressem com os maus olhares da vizinhança: "É a trajetória de Benzinho, que deixando o colégio de freiras vai viver com a mãe e o irmão as dificuldades de uma maternidade concebida fora do casamento", afirma Jacinto Paulo Coelho.

Toda o enredo ocorre em torno da casa nova em que a família mora. Enquanto D. Binoca e Juca se concentram em seus afazeres diários, Benzinho decide viver sozinha dentro de casa sem contar o verdadeiro do nome do pai que afirmou (fingiu!) voltar revê-la após a morte de sua atual esposa que estava enferma. No entanto isto não aconteceu, e meses se passaram até nascimento da filha que se chamou Loló.

Benzinho vivia reclusa em sua casa à espera do pai de sua filha, olhava a movimentação da rua em frente à sua casa e, quando queria ficar sozinha, deixava as janelas fechadas. Fechá-las provavelmente poderia ter um significado expressivo para Montello que quis - talvez - fazer uma referência aos nossos comportamentos e características internas, e algumas delas, à época, possivelmente não poderiam ser mostradas devido aos olhares mesquinhos da população.

Josué Montello é um escritor genial que soube escrever e descrever seus personagens com tamanha sutileza que torna a leitura agradável, possibilitando imaginar as ações com perfeições. Assim disse o crítico Antônio Cândido: "Josué Montello tem a capacidade de caracterizar o personagem pelo exterior, ou seja, por aquele conjunto de atitudes que nos permitem conhecê-los do exterior. [...] Estas qualidades - de descrição, de detalhe, de boa escrita de visão externa - é que me fazem crer na possibilidade de um forte escritor neorrealista". Ler Josué Montello é ver o mundo real de fato pela literatura. 

terça-feira, 9 de junho de 2020

AMEI LER EM JUNHO: "Pare! Respire!" - resenha de "Vida Decifrada", de jambelfort

Por Jaqueline Morais

Em seu livro Vida Decifrada, jambelfort traz uma mensagem reflexiva sobre como vivenciamos  nossa estada neste mundo, onde estamos cercados por atrativos perigosos, cores, pessoas, forças cósmicas e mistérios inexplicáveis. Isso nos torna dispersos, distraídos, ausentes e egoístas. Deixamos para apreciar depois.

Pare! Respire!

"Simplesmente aprecie, cara. Aproveite bem as oportunidades e as pessoas, pois ambas se vão. Imite o curió e agradeça. Faça com que esta seja a festa que te resta".(p.120)

Agradeça aos seus olhos, por todos os dias serem coloridos; valorize seus ouvidos por cada risada gostosa, que deixa seu coração quentinho; se delicie com os aromas das flores; deguste com paixão suas comidas favoritas e sinta o toque do amor.

Seja generoso para consigo e com o próximo. Aprenda que se você está conversando com alguém, olhe nos olhos. Esteja 100%. Veja o outro e esteja pronto para ajudá-lo, caso seja necessário, pois, às vezes há um pedido silencioso de socorro.

Marcos estava tão envolvido na sua busca, que acabou se isolando, deixando os sentidos fechados. Mascarando assim, o que de fato era relevante. Como o sábio conselho de seu pai:

" _ Enquanto tens vida, meu filho, encare desafios e vença medos. Aproveite tudo de maneira ponderada e torne o momento de agora muito mais emocionante e importante que o anterior. Assim, a vida se tornará inesquecível!"(p.81)

A obra se encontra disponível no site

Mesmo vivendo em sofrimento, seu pai deixou muitos ensinamentos. Assim como Alex, o amigo alegre teve que amadurecer e ser forte por si e por seu irmão. E ainda encontrava tempo para fazer os outros rirem. Enquanto seu coração estava sangrando.

"Contigo eu aprendi que, assim como nem toda casa é um lar, atrás de um sorriso pode haver uma dor" (p.175).

Meus queridos, a vida está sussurrando "Cada um de nós precisa ver com atenção". O que você deixou passar hoje? Já parou para decifrar os sinais? 

Sua felicidade depende de você! Portanto, não se sabote e nem se diminua. Há ouro ao seu lado.
Então, te convido a ler essa obra totalmente acessível, de narrativa leve, para tratar de temas importantes com uma pitada de romance e um narrador que mais parece nossa consciência.

Venha, vamos decifrar juntos os códigos secretos que nos rodeiam. Não percam nosso encontro com o autor de Junho, que será online, no dia 20 de junho, às 20h. Boa leitura!



quinta-feira, 12 de março de 2020

AMEI LER EM JUNHO - "Ah, Vida Esteganográfica!": Sobre símbolos, rios, e talvez sobre (re)leitura.

Lorena Silva lê jambelfort

Todo livro é um oceano de símbolos a serem decifrados. Não apenas pela razão óbvia de que letras são signos (Oi, Saussure!), mas num sentido ainda mais amplo,quantos rios correm nas páginas de um livro? Vamos mais além: o livro que relemos é sempre o mesmo livro? E o leitor que lê o mesmo livro é o mesmo leitor a cada vez que relê? Complexo. Vem comigo no barquinho pelo rio onde ninguém se banha duas vezes.

Você lê um livro. E lê por quê? Há tantos tipos de leitura, cada um para seu objetivo. A leitura é um processo muito solitário, muito íntimo, e principalmente, subjetivo. Tantos significados podem ser atribuídos por cada par de olhos que encontra o texto... Vemos metas de leitura por todo lado, leitores que mostram ao mundo todo o que andam lendo, o que andam riscando da lista, por que mares bravios andam se aventurando. E para cada um deles, houve um objetivo e uma experiência. Então já podemos afirmar que o próprio livro não é o mesmo para cada leitor.


Contracapa de "Vida Decifrada" (2019)


Leitura também é técnica. Tal qual um marinheiro experiente, adquirido o hábito, sabemos os caminhos a tomar para tornar aquela experiência mais produtiva e até prazerosa, ou seja, para chegar à outra margem do rio. E quando se é um bom navegante, esse processo vai se naturalizando, podendo se aplicar a todos os tipos de corpos d'água (ou de palavras) que ele encontrar. Leitura também tem etapas. E nem sempre podemos navegar por todas elas: pulamos, queimamos, adiamos  e aí mora o perigo. Chama-se superficialidade. Ficamos ali seguros na superfície, vencemos as ondas, sobrevivemos à ressaca, mas morremos na praia. 

E então vem o momento de encarar novamente a correnteza, você revisita aquela leitura. Você tem consciência plena de que precisa absorver ainda mais daquele oceano, que há pontos nele que você ainda não domina por completo, ou simplesmente reconhece que, afinal, você não estava num bom momento para atravessar aquelas correntes. É quando você relê esse livro. E relê por quê? É um ponto delicado. Reler é um processo ainda mais complexo, pois demanda até certa humildade. 

Falo de humildade porque existe uma crença comum de que reler é retroceder. Mas a vida é feita de rascunhos, como não relê-la? Como é possível que um trabalho de anos de um autor ou autora escrevendo uma obra possa ser absorvido inteiro em apenas uma leitura? Como um marinheiro conhece um oceano inteiro se não viajou continuamente por suas ondas? Não parece lógico.

No entanto, o hábito da releitura comprova que um livro é esse vasto oceano, e nele desaguam tantos rios... Comprova ainda que você muda, sua mente muda, sua visão muda. E se não mudou, bem, é preciso ler mais e melhor - o que inclui o ato de reler, se for preciso. Não basta aprender a nadar. É preciso dominar as técnicas de respiração e postura para também mergulhar e ver o que há no fundo.

A leitura de jambelfort foi assim. A primeira leitura já impressiona pela habilidade do autor em mesclar tantos elementos em uma única narrativa. As próximas só nos levam a decifrar ainda mais os códigos desta vida esteganográfica, e nos cabe imergir cada vez mais fundo, para apreender todos os sinais que ela quer nos mandar, tal qual como um farol indicando os caminhos a seguir a todo navegante solitário.

Sigamos, bravos aventureiros! Não sejamos os mesmos a cada mergulho no mar das palavras.

Por Lorena Silva

A (mar)crônica inspirada pela (re)leitura de "Vida Decifrada" 
(jambelfort, Edição do Autor, 2019), em discussão no mês de Junho no CLUBE AMEI LER.

📚CLUBE AMEI LER DE JUNHO: jambelfort
📚 Data: 20/03/2020 (sábado)
📚 Horário: 18h
📚LIVE VIA INSTAGRAM: @clubeameiler




quarta-feira, 4 de março de 2020

AMEI LER EM MARÇO - Plataformas digitais e a nova era de escritores


A literatura sempre agiu de acordo com a época de cada escritor, tendo em vista com suas possibilidades de escrita e de influência entre o correlação entre a literatura e o indivíduo. As revoluções ocorridas ao longo dos anos permitiram grandes avanços tecnológicos e científicos que nos trouxeram grandes benefícios em diversas áreas. O enorme progresso desde a Revolução Industrial, por exemplo, deu a Literatura novos meios de escrever, produzir e publicar livros, como se pode ver na atualidade a partir das novas plataformas digitais, o que facilita e muito a autopublicação e interação mais rápida com o leitor, facilitando algumas melhorias na escrita.

A ideologia está presenta nas condições da literatura, e a cada época as ideologias sociais nos trazem algum crescimento, como a Internet e a criação de notebooks, computadores, entre outros equipamentos tecnológicos usados em casa. A literatura se apresenta em prosperidade devido a ganhar grande interesse em jovens, independente de gênero, idade e classe social. Quando utilizada da forma correta, a tecnologia vem para elevar o pensamento crítico da realidade do mundo e para nos dar uma literatura imparcial, pois ela se multiplica e se propaga à velocidade da luz tornando-se, em tese, justa e igual a todos.

Alguns escritores acabam se apegando a este meio para se iniciar na literatura para ganhar experiência e desenvolver seu estilo. O uso contínuo da informática trouxa plataformas digitais que nos trouxe diversos e excelentes escritores, como o Wattpad e o Kindle. Como exemplos podemos citar a maranhense Déa Alhadeff que lançou Os segredos de uma jovem espiã (trilogia) pelo wattpad, conseguindo milhares de leitores, o que fez lançar depois a história em livro físico, à venda na livraria AMEI. Outra história da Déa a ser citada é a fanfic “Procura-se o Romeu”, baseada na aclamada obra de Shakespeare, Romeu e Julieta. A fanfic é uma ótima opção para quem começa a escrever em prosa, pois auxilia no amadurecimento da escrita, da criticidade e da produção literária.

Outra escritora maranhense que podemos citar é Rayoline Cirino, cujo primeiro livro ("Recomeçar") foi lançado na Bienal do Rio de Janeiro, mas recentemente fez o romance sobrenatural intitulado "Portal das sombras", lançado a priori em e-book pela Amazon e somente depois veio o livro físico, sendo apenas o primeiro volume da história "Mundo das sombras", cujo enredo fala sobre a jovem órfã Elizabeth Smith que tem de lidar com a solidão e com o mundo até que conhece o jovem misterioso Ciprian. Lançado na AMEI, sua última obra alavancou ainda mais 

Afinal, o que a literatura faz? Ela instrui e agrada. Cada plataforma digital auxilia a dar mais visibilidade a esses novos escritores que muito lutam para conseguirem seu espaço nesse imenso mudo literário por meio da autopublicação, colocando-os futuramente nas vitrines das livrarias físicas.

Por Ricardo Miranda

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

AMEI LER em Janeiro - ENTREVISTA COM R.A. CIRINO, autora de "Portal das Sombras"

O universo sobrenatural retratado na trilogia Mundo das Sombras da escritora maranhense R.A. Cirino é o grande destaque do Clube AMEI LER no primeiro bimestre de 2020. E na postagem a seguir você confere mais comentários sobre a experiência de leitura da obra e uma entrevista com a autora.

O romance Portal das Sombras (2019), primeiro volume da série Mundo das Sombras escrito pela R.A. Cirino, nos apresenta ao primeiro contato consciente entre a realidade humana da florista Lizzie Smith e o submundo onde o vampiro Ciprian Dancan vive. Os dois se conhecem em meio a uma trama emocional secular que transforma a empatia mútua em uma amizade que rapidamente evolui para amor em um contexto de disputas de poder, inveja e ressentimentos, mas também de justiça, nobreza e bravura.


Conforme observado pela leitura da nossa mediadora Lorena Silva, o romance de R.A. Cirino atualiza a típica literatura vampiresca com o frescor da modernidade, não só pelo diálogo entre dois séculos (a trama é narrada paralelamente entre 1809 e 2009, colocando em perspectiva costumes culturais distintos), mas principalmente pelas escolhas narrativas adotadas para conduzir o leitor por dentro desse complexo universo de poderes extraordinários e criaturas sobrenaturais.

Tendência contemporânea, a narração apresentada em múltiplas perspectivas com as visões do núcleo principal de personagens amplia a experiência de imersão nas cenas e proporciona a humanização (ainda que aqui estejamos falando também de vampiros e bruxas!) dos sentimentos e anseios de cada personagem, dos mocinhos aos vilões. Contada assim, a história ganha profundidade e revela uma autora capaz de construir arcos completos de personalidade. 

Entre outros destaques narrativos, chama a atenção a naturalidade com que a autora constrói eficientes imagens narrativas de ambientações e subtramas, que convencem por apresentar argumentos sólidos das trajetórias passadas dos personagens. Ponto para as escolhas pouco óbvias como o amadurecimento da amizade entre Lizzie e a mãe de Ciprian, sua sogra Eleonor; para todo o contexto sobre o dia-a-dia de uma floricultura com estufa para cultivo próprio – a relação terapêutica entre a protagonista e a botânica é um aspecto importante da individualidade de Lizzie; e para a construção da masculinidade de personagens diferentes como os irmãos Hendrix e Ciprian, que representam diferentes olhares sobre seus papéis como figuras masculinas centralizadoras de poder nas relações de liderança e afeto.

      No bate-papo a seguir, a autora responde as curiosidades dos nossos mediadores sobre processo criativo, a relação entre fantasia e realidade, os mecanismos disponíveis para quem publica na internet e como nasceu esta nova trilogia sobrenatural.

Equipe AMEI LER com escritora R.A. Cirino no primeiro encontro de 2020 do clube.
(Da esq. para dir.: Lorena Silva, R.A. Cirino, Talita Guimarães e Ricardo Miranda)

LORENA SILVAA sua obra mistura diversos elementos fantásticos, ainda que o central seja a figura do vampiro, mas aborda ainda o mundo de criaturas como fadas e bruxas. Como autora de histórias fantásticas, como você vê essa relação entre a fantasia e a realidade?

R.A. CIRINO: Como diria Shakespeare “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia.” Então eu realmente acredito que pode haver coisas além do que imaginamos, o ser humano não conhece de fato o mundo em que vive.

LORENA SILVA: Existe uma grande leva de jovens autores que publica seus textos na Internet e ganha visibilidade bem antes de publicar um livro físico, permitindo que sua história, seu texto, seja fruto também da interação com os leitores que acompanham a história e participam dela, de certa forma, através desse contato mais próximo do autor. Como é sua relação com seus leitores da Internet? Eles influenciaram ou influenciam na sua escrita de alguma forma?

R.A. CIRINO: Bom, eu comecei no Spirit e no Wattpad, eu sempre começava a postar uma história quando esta já estava totalmente pronta e, para mim, sempre importou muito a opinião do leitor, então eu tentava levar em consideração as críticas, as sugestões e as dicas, sem modificar demais o roteiro do meu livro.

TALITA GUIMARÃES: O universo sobrenatural é ricamente pensado pela ficção nas várias linguagens artísticas e cada autor costuma adicionar sua parcela de contribuição para a mitologia. Como foi seu processo de construção do submundo e das características das criaturas para criar algo diferente do que já foi retratado?

R.A. CIRINO:  Bom... Para começar eu me baseei nas referências clássicas dos vampiros, Anne Rice, Bram Stoker, que foram os marcos da literatura de vampiros no mundo. Busquei também elementos culturais e lendas dos países europeus sobre vampiros, para incrementar a história, acho que o diferencial de Portal das Sombras é essa mistura de elementos que reúne a ficção já inventada por outros autores, bem como a mitologia de determinados países.

RICARDO MIRANDA: Para muitos, começar o processo de escrita é um pouco difícil, cada um acaba tendo um jeito particular para criar um enredo, personagens. Como é o seu processo de escrita? Como você se planeja para a escrita?

R.A. CIRINO:  Geralmente eu começo com a cronologia da história, do início ao fim, então faço a ficha dos personagens e escrevo o máximo possível do que eu quero que aconteça no decorrer da história. Então finalmente eu escrevo o livro.

JAQUELINE MORAIS: Como surgiu a estória de Portal das Sombras?

R.A. CIRINO: Bom, Portal das Sombras surgiu de um dos contos de outra história minha, onde a protagonista entrava por um portal e dava de encontro com um mundo em guerra entre vampiros e lobisomens. Então conversando com a revisora de Recomeçar, meu primeiro livro, sobre o assunto de como os vampiros são abordados hoje em dia, eu resolvi pegar esse conto que já existia e transformar no que vocês conhecem hoje.

Por Talita Guimarães

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

AMEI LER em Janeiro - "Portal das Sombras I: Mundo das Sombras", de R. A. Cirino

Por Lorena Silva 


No primeiro clube de leitura de 2020, teremos a presença da jovem autora R. A. Cirino, que lança no dia 18 deste mês seu mais novo romance sobrenatural: "Portal das Sombras I: Mundo das Sombras", obra que surgiu no suporte virtual da internet,e agora ganha formato físico contribuindo com a nova geração de autores maranhenses. Aqui no blog, você poderá acompanhar ao longo do mês mais sobre a autora, sua obra e os pontos de vista literários dos nossos coordenadores Jaqueline Morais, Lorena Silva, Talita Guimarães e Ricardo Miranda - todos também autores maranhenses e membros da Associação Maranhense de Escritores Independentes (AMEI). 

Iniciando nossa série de posts, trago a vocês minhas impressões de leitura desta que é uma obra de estreia no gênero sobrenatural de R.A. Cirino.

A obra de 293 páginas, lançada pelo selo editorial Segredo, da Editora Portal (MG), estará disponível para venda a partir do dia 18 de Janeiro, na Livraria AMEI, São Luís Shopping.


"Mundo das Sombras", o primeiro volume de uma série intitulada Portal das Sombras, nos levará para longe de terras maranhenses. Viajaremos com Elizabeth, ou Lizzie, para Londres, Inglaterra, onde vive a jovem florista, reerguendo sua vida tocando após o trauma de perder seus pais ainda criança. Vivendo com a melhor amiga, Sophie, Elizabeth não imaginava que logo ali, paralelo ao seu mundo cotidiano, viviam criaturas das sombras, criaturas eternas: vampiros, fadas, lobisomens, e tudo que ela já tinha lido em tantos livros. Ela mal poderia prever que esses mundos se conectavam através de um portal mágico.

Quem promove o encontro é o enigmático Ciprian Dancan, o vampiro que cruza o caminho de Elizabeth e a introduz a seu mundo - e uma intrincada trama familiar envolvendo um irmão vingativo (Hendrix) e uma cunhada inescrupulosa (Tess). Elizabeth enfrentará não apenas o choque de lidar tantas vezes com a morte de frente, mas também tentar salvar a própria pele, que está em jogo desde que sua vida se entrelaça à de Ciprian.

 - Deve ser muito bom ter tempo para conhecer o mundo inteiro! Viver o bastante para aproveitar as coisas boas da vida, viajar, ser livre...
- Não é nada bom viver nas sombras, não poder ver o sol ou não entender qual a beleza das praias gregas porque você não pode ver o sol tocar na água e nas montanhas. Só vi o sol nascer uma única vez e finalmente entendi por que os humanos acham isso tão lindo, mas quase fiquei cego.
Pelejei para segurar o riso, mas não consegui.
- Desculpa, eu não consegui me conter. - respirei fundo. - Sério, me desculpa... Acho que você só está olhando o lado ruim da coisa. Tenho certeza de que tem um lado bom nisso.
- Claro que tem.  - Ele riu e aproximou seu rosto do meu. - Se eu tivesse morrido há 400 anos, não conheceria você! 
(Lizzie e Ciprian, pág. 77). 

R. A. Cirino nos apresenta a uma narrativa rápida, rica em elementos que vão se apresentando de forma frenética e logo nos vemos tragados por uma aventura vampiresca que busca fugir das histórias tradicionais do gênero, inserindo elementos modernos com bom humor e irreverência. As mulheres dominam a narrativa, que é contada por diversos pontos de vista. Esse recurso se torna crucial para compreender a história em sua totalidade quando todos os caminhos se encontram. 

É interessante observar a criatividade e talento da autora para explorar os conflitos dentro da obra, os quais deixam ganchos surpreendentes para a continuação. Destaque para as personagens Eleanor, mãe de Ciprian, uma bruxa talentosa e cativante, e para Tess, a grande vampira antagonista que se torna o tipo de vilã que ainda amaremos muito odiar, tenho certeza. A autora foi ousada em explorar as transições temporais e de narrador em seu primeiro romance do gênero, e demonstra uma escrita promissora, que guarda ainda mais surpresas nos próximos tomos desta saga. 



Fica o convite para o nosso encontro no dia 11 de Janeiro num bate-papo com a autora, e logo no fim de semana seguinte, para o lançamento de "Portal das Sombras", no dia 18. Vamos falar de criaturas das sombras?