NEVES, Maria Thereza
de Azevêdo. Café ou chocolate?. São
Luís: 2ªEd, Gráfica Minerva, 2017.
“Doeu dizer adeus àquela Ilha pequenina e alegre,
adeus ao mar inconstante, ora perto, ora distante, na indecisão de enchente ou
vazante de eternas marés.”
(Maria Thereza de Azevêdo Neves)
Maria
Thereza de Azevêdo Neves é um achado. Desses preciosos que só encontra quem
garimpa uma livraria por oras a fio, na paciência de quem sabe que há de ver
brilhar um tesouro por baixo de tantas lombadas e capas duras.
Reconhecida
por grandes nomes como Arlete Nogueira da Cruz, esta discreta autora
maranhense, cuja produção em prosa se desdobra em romances, contos e memórias, aborda
com limpidez em Café ou Chocolate?
(2017) o tema recorrente do preconceito que limita as mais puras experiências
humanas.
No romance, Maria Thereza de Azevêdo
Neves narra como o entrelaçamento de duas trajetórias de vida fundadas em
valores distintos pode conduzir tanto à vitória da redenção humana quanto ao
drama de um desfecho trágico.
É sob a alternância dessas duas
possibilidades que acompanhamos o drama do jovem advogado Hans, que embora
oriundo de uma família alemã abastada, tem sua rotina de bon vivant interrompida por um acidente que o deixa cego. Paralelamente
a isso, seguimos a competente enfermeira Calomé desde que seus pais ainda a
tentavam conceber, envoltos em simpatias desastrosas e situações pitorescamente
divertidas na São Luís da década de 60.
Livro disponível na Livraria e Espaço Cultural AMEI |
As vidas de Hans e Calomé (que
nasceu Salomé, mas por erro de um atendente disléxico do cartório foi
registrada com a letra trocada) se cruzam quando a enfermeira é selecionada
como cuidadora temporária do advogado em sua adaptação à nova condição visual.
A relação que se estabelece caminha
delicadamente do profissional para uma afeição que evolui para o amor. Admirado
com a cultura e sabedoria da moça, Hans se apaixona por ela, e a defende dos
inexplicáveis ataques de intolerância de sua família, que é um retrato do culto
à aparência e ao poder financeiro. O conflito entre os dois surge quando Hans
descobre por meio de um comentário malicioso a cor da pele de sua cuidadora e
reage ao mesmo tempo surpreso e febril como um típico fruto de uma educação
racista.
O desenrolar desse drama, que passa
por temas como violência sexual, analfabetismo, preconceito racial,
desigualdade social, afeto, fé, educação e amor, vale a leitura envolvente que
propõe várias reflexões importantes sobre a ordem social cujos padrões visam a manutenção
de relações de poder opressivas.
Por meio de construções frasais concisas que constroem
imagens narrativas eficientes, a autora flui pelos acontecimentos marcantes da
jornada de cada personagem sem comprometer o desenvolvimento da história, entregando
uma leitura profunda sobre as experiências humanas como produtos do meio
social.
Por Talita Guimarães
Ótima resenha, vou ler o romance ;)
ResponderExcluirAgradecemos a visita e desejamos uma ótima leitura! Sinta-se convidada a participar do nosso encontro com a autora Maria Thereza de Azevêdo Neves no sábado 29 de junho, das 16h às 18h na Livraria e Espaço Cultural Amei (São Luís Shopping). Entrada gratuita! ;)
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