sexta-feira, 10 de maio de 2019

AMEI LER em Maio - "O menino que via o além" de José Ewerton Neto

NETO, José Ewerton. O menino que via o além. São Paulo: Escrituras Editora, 2003.

“Somos feitos de água e tempo. O tempo a gente não pode repor, mas a água sim.” 
(José Ewerton Neto)


A inesgotável fonte de reflexão que é a literatura, nas mãos habilidosas do escritor maranhense José Ewerton Neto deságua em uma belíssima novela infanto-juvenil que investiga com lirismo e um profundo senso filosófico toda a matéria da qual é feito o ser humano e sua busca vazante em uma jornada pelo sentido da vida.

Em "O menino que via o além" (2003), Mariano é um homem adulto que após um breve encontro com um garoto de olhar luminoso e postura plena entra em estado de ruptura com a rotina para ingressar numa travessia para dentro de si mesmo, em busca do menino que já fora e das certezas que um sonho de infância um dia lhe afluíram à mente. 

A capacidade infantil de produzir sabedoria sobre o tempo, a memória e a vida, que a existência adulta abandona sem pudor, estimula Mariano à retomada de quem já fora e agora notava ruir, sob a repentina percepção angustiante de que o tempo do mundo estava se esgotando e ele precisava avisar a todos sobre um fim próximo.



Em busca da decisão correta a tomar, o homem empreende uma viagem não programada para o sul atrás do garoto, pois só aquela criança em especial, que dias atrás compartilhara com ele o conhecimento acerca dos mistérios da existência poderia lhe aconselhar sobre o que fazer e quem melhor ser pelo desconhecido tempo que lhes restava.

Com uma narrativa sensível que encadeia os acontecimentos com a chegada de personagens que se conectam e contribuem delicadamente para o crescimento do protagonista em sua jornada por respostas, Ewerton Neto produz uma bela reflexão sobre nossas percepções de tempo e relações estabelecidas com essa entidade inexorável ao longo da vida.

Por Talita Guimarães

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