quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

AMEI LER em Janeiro - ENTREVISTA COM R.A. CIRINO, autora de "Portal das Sombras"

O universo sobrenatural retratado na trilogia Mundo das Sombras da escritora maranhense R.A. Cirino é o grande destaque do Clube AMEI LER no primeiro bimestre de 2020. E na postagem a seguir você confere mais comentários sobre a experiência de leitura da obra e uma entrevista com a autora.

O romance Portal das Sombras (2019), primeiro volume da série Mundo das Sombras escrito pela R.A. Cirino, nos apresenta ao primeiro contato consciente entre a realidade humana da florista Lizzie Smith e o submundo onde o vampiro Ciprian Dancan vive. Os dois se conhecem em meio a uma trama emocional secular que transforma a empatia mútua em uma amizade que rapidamente evolui para amor em um contexto de disputas de poder, inveja e ressentimentos, mas também de justiça, nobreza e bravura.


Conforme observado pela leitura da nossa mediadora Lorena Silva, o romance de R.A. Cirino atualiza a típica literatura vampiresca com o frescor da modernidade, não só pelo diálogo entre dois séculos (a trama é narrada paralelamente entre 1809 e 2009, colocando em perspectiva costumes culturais distintos), mas principalmente pelas escolhas narrativas adotadas para conduzir o leitor por dentro desse complexo universo de poderes extraordinários e criaturas sobrenaturais.

Tendência contemporânea, a narração apresentada em múltiplas perspectivas com as visões do núcleo principal de personagens amplia a experiência de imersão nas cenas e proporciona a humanização (ainda que aqui estejamos falando também de vampiros e bruxas!) dos sentimentos e anseios de cada personagem, dos mocinhos aos vilões. Contada assim, a história ganha profundidade e revela uma autora capaz de construir arcos completos de personalidade. 

Entre outros destaques narrativos, chama a atenção a naturalidade com que a autora constrói eficientes imagens narrativas de ambientações e subtramas, que convencem por apresentar argumentos sólidos das trajetórias passadas dos personagens. Ponto para as escolhas pouco óbvias como o amadurecimento da amizade entre Lizzie e a mãe de Ciprian, sua sogra Eleonor; para todo o contexto sobre o dia-a-dia de uma floricultura com estufa para cultivo próprio – a relação terapêutica entre a protagonista e a botânica é um aspecto importante da individualidade de Lizzie; e para a construção da masculinidade de personagens diferentes como os irmãos Hendrix e Ciprian, que representam diferentes olhares sobre seus papéis como figuras masculinas centralizadoras de poder nas relações de liderança e afeto.

      No bate-papo a seguir, a autora responde as curiosidades dos nossos mediadores sobre processo criativo, a relação entre fantasia e realidade, os mecanismos disponíveis para quem publica na internet e como nasceu esta nova trilogia sobrenatural.

Equipe AMEI LER com escritora R.A. Cirino no primeiro encontro de 2020 do clube.
(Da esq. para dir.: Lorena Silva, R.A. Cirino, Talita Guimarães e Ricardo Miranda)

LORENA SILVAA sua obra mistura diversos elementos fantásticos, ainda que o central seja a figura do vampiro, mas aborda ainda o mundo de criaturas como fadas e bruxas. Como autora de histórias fantásticas, como você vê essa relação entre a fantasia e a realidade?

R.A. CIRINO: Como diria Shakespeare “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia.” Então eu realmente acredito que pode haver coisas além do que imaginamos, o ser humano não conhece de fato o mundo em que vive.

LORENA SILVA: Existe uma grande leva de jovens autores que publica seus textos na Internet e ganha visibilidade bem antes de publicar um livro físico, permitindo que sua história, seu texto, seja fruto também da interação com os leitores que acompanham a história e participam dela, de certa forma, através desse contato mais próximo do autor. Como é sua relação com seus leitores da Internet? Eles influenciaram ou influenciam na sua escrita de alguma forma?

R.A. CIRINO: Bom, eu comecei no Spirit e no Wattpad, eu sempre começava a postar uma história quando esta já estava totalmente pronta e, para mim, sempre importou muito a opinião do leitor, então eu tentava levar em consideração as críticas, as sugestões e as dicas, sem modificar demais o roteiro do meu livro.

TALITA GUIMARÃES: O universo sobrenatural é ricamente pensado pela ficção nas várias linguagens artísticas e cada autor costuma adicionar sua parcela de contribuição para a mitologia. Como foi seu processo de construção do submundo e das características das criaturas para criar algo diferente do que já foi retratado?

R.A. CIRINO:  Bom... Para começar eu me baseei nas referências clássicas dos vampiros, Anne Rice, Bram Stoker, que foram os marcos da literatura de vampiros no mundo. Busquei também elementos culturais e lendas dos países europeus sobre vampiros, para incrementar a história, acho que o diferencial de Portal das Sombras é essa mistura de elementos que reúne a ficção já inventada por outros autores, bem como a mitologia de determinados países.

RICARDO MIRANDA: Para muitos, começar o processo de escrita é um pouco difícil, cada um acaba tendo um jeito particular para criar um enredo, personagens. Como é o seu processo de escrita? Como você se planeja para a escrita?

R.A. CIRINO:  Geralmente eu começo com a cronologia da história, do início ao fim, então faço a ficha dos personagens e escrevo o máximo possível do que eu quero que aconteça no decorrer da história. Então finalmente eu escrevo o livro.

JAQUELINE MORAIS: Como surgiu a estória de Portal das Sombras?

R.A. CIRINO: Bom, Portal das Sombras surgiu de um dos contos de outra história minha, onde a protagonista entrava por um portal e dava de encontro com um mundo em guerra entre vampiros e lobisomens. Então conversando com a revisora de Recomeçar, meu primeiro livro, sobre o assunto de como os vampiros são abordados hoje em dia, eu resolvi pegar esse conto que já existia e transformar no que vocês conhecem hoje.

Por Talita Guimarães

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